Programa Muda Cana, desenvolvido pela Orplana, criará condições para multiplicação dos conceitos da produtividade de três dígitos

Marcos Guimarães de Andrade Landell, diretor do Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC)

“O fornecedor pode ser, nesse momento, o grande ator da verticalização da produção de cana no país”. Quem afirma isto é o pesquisador Marcos Guimarães de Andrade Landell, diretor do Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC), localizado em Ribeirão Preto, SP. Segundo ele, há produtores, em algumas regiões do país, que obtêm resultados mais expressivos do que a agroindústria. “Conseguem produzir mais de quinze toneladas de açúcar por hectare (na média de vários cortes), batendo tranquilamente os três dígitos na produtividade agrícola”, exemplifica.

Além disso, esses fornecedores de matéria-prima têm uma área de cana menor em relação às usinas, que oferecem condições favoráveis para o desenvolvimento da atividade com mais cuidado e capricho – avalia. Marcos Landell acredita que o setor sucroenergético vai ter cada vez mais produtores de grande capacidade, habilidade e dedicação. “Essa participação será um marco na canavicultura nacional”, afirma. Por isso, o IAC está apostando – ressalta – nas associações e no trabalho que é desenvolvido pela Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), incluindo o “Muda Cana”, programa de capacitação contínua dos produtores.

Baseado no tripé “gestão do negócio, matriz de risco, produtividade e sustentabilidade”, o Muda Cana dará suporte para que a propriedade do fornecedor de cana se torne cada vez mais lucrativa, competitiva e sustentável. A capacitação será feita por meio digital, palestras e oficinas. Para colocar em prática os objetivos e metas do Muda Cana, a Orplana conta com uma rede de parceiros com experiência e conhecimento em diversas áreas. O programa planeja capacitar 110 produtores de cada uma das 32 associações filiadas à Orplana, durante seis anos, totalizando 3.520 associados que atuarão como “agentes de transformação” para replicarem o conteúdo assimilado em todo o processo.

O Instituto Agronômico – que é vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo – pretende multiplicar no Muda Cana os conceitos utilizados na produção de cana de três dígitos, abordando o sistema de plantio de Mudas Pré-Brotadas (MPB), o Meiosi (Método interrotacional ocorrendo simultaneamente), o manejo varietal adequado, entre outros. O diretor do Centro de Cana enfatiza que o IAC trabalha, nos cursos e treinamentos, a importância das novas variedades – de todos os programas –, não só como uma estratégia de atualização, mas de incorporação dos ganhos de melhoramento genético.

Os participantes do Muda Cana terão acesso a informações e treinamentos importantes que vão mudar, com certeza, a maneira de produzirem cana-de-açúcar em suas propriedades – prevê.

Na avaliação de Marcos Landell, está muito mais fácil atualmente trabalhar com as associações de produtores, porque o novo projeto estratégico da Orplana modificou totalmente a atuação da entidade, que tornou-se muito mais dinâmica. “Um dos problemas, que existia antes em diversas associações de produtores, era a interlocução complicada. Muitas delas pouco conheciam do nosso trabalho. Não davam oportunidade para atuarmos”, comenta.

O Muda Cana inclusive faz parte de um novo desenho da Orplana – destaca. “É um dos braços de ação deste grande projeto da entidade, que acaba arrastando instituições de pesquisa e universidades”, ressalta.

Mudar e avançar – A Orplana está gerando um ambiente que demonstra para os produtores e as associações a necessidade de mudanças – afirma Marcos Landell. “Percebo que isto está acontecendo em várias delas. Acho muito positivo este momento”, diz.

Bastante utilizado pelos produtores, o sistema MPB – que será um dos assuntos de destaque do Muda Cana – fortalece o conceito sobre a importância da qualidade da muda, observa o diretor do Centro de Cana IAC. “Trabalhamos a ideia de utilização de variedades novas com mais velocidade, que impactam na produtividade. Isto não estava sendo feito”, revela. Segundo ele, alguns produtores chegavam a multiplicar muda de quarto corte, sem preocupação com qualidade fitossanitária. Havia inclusive problema de raquitismo.

“Não adianta fazer MPB de uma variedade antiga, de vinte anos atrás. Vamos divulgar e difundir materiais novos. Partimos do princípio que os três programas de melhoramento do Brasil estão lançando novas variedades que apresentam um maior potencial biológico em relação aos materiais mais antigos”, argumenta.

A ideia é incentivar o produtor a correr algum tipo de risco – sugere –, porque ele é, às vezes, extremamente conservador. “O canavial pode durar sete cortes. Se o produtor fizer uma opção errada, escolhendo uma variedade que foi lançada há vinte anos, em 1997, vai prolongar por mais sete anos o uso desse material que não se adapta de repente à colheita mecanizada”, exemplifica.

Na realidade, quem está sendo prejudicado é o próprio produtor que utiliza uma variedade antiga – avalia. “O MPB desperta essa possibilidade de incorporação de material novo”, enfatiza.
Outro benefício do MPB é ter tirado da prateleira o Meiosi, uma tecnologia gerada em meados da década de 1980, em Jaboticabal, SP. O MPB mostrou aos produtores que a utilização do Meiosi poderia otimizar a muda de qualidade do MPB, aumentando consideravelmente a sua taxa de multiplicação – relata.

Se o produtor quiser dar um salto de produtividade na sua lavoura – opina – vai precisar também fazer uma releitura dos atores e avaliar quem está realmente contribuindo neste processo. E isto passa por essa questão de novos materiais. “O produtor tem que se desapegar. Não adianta ficar defendendo variedade de vinte anos atrás. Nem eu que sou melhorista vou defender, daqui a cinco anos, algumas variedades que tiveram o processo de criação e desenvolvimento liderado por mim”, comenta.

No primeiro momento de difusão do sistema MPB, houve resistência às variedades novas, inclusive as do IAC – revela. “Havia aquela visão do produtor muito apegado à tradição, ao grande trabalho do passado do Planalsucar e da Copersucar. Agora, os atores são diferentes. O IAC se tornou um ator importantíssimo quer lida com todas as áreas da fitotecnia de cana. O CTC e a própria Ridesa estão focados em melhoramento. O CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol) e as universidades também desenvolvem seus projetos”, diz.

Ambiente favorável – Em decorrência do novo momento da Orplana, houve uma intensificação das atividades do IAC junto aos produtores de cana – admite Marcos Landell. Um dos exemplos desse maior vínculo entre as duas instituições é a realização de reuniões do conselho técnico da Orplana durante os dias em que ocorrem os encontros – sete por ano – do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar, realizados no IAC, em Ribeirão Preto, que contam também com a participação dos produtores de cana.

“Os representantes das associações aproveitam a vinda para Ribeirão Preto e marcam, no período da manhã, reunião do conselho técnico. É uma ação da Orplana, além de inteligente, muito relevante. Esses encontros têm também a participação de agrônomos, inclusive de especialistas do IAC, que discutem e compartilham assuntos importantes sobre a produção de cana”, detalha.

O IAC passou, nos últimos anos, a ter uma atuação maior junto a associações. “Temos proposto alguns projetos, como o Mais Cana, desenvolvido em conjunto com a Coplana, de Guariba, SP, que ganhou até prêmio nacional de inovação tecnológica. É um projeto que envolve treinamento de produtores, criação de estratégias para verticalização da produção. No caso, a estratégia foi criar núcleos de MPB para que os produtores pudessem ter acesso a variedades novas, de maior potencial”, conta.

Atualmente há vários fornecedores com produtividade acima dos três dígitos, na média de cinco cortes – informa. Quando o projeto foi iniciado em 2013, isto não ocorria com frequência – observa.

De maneira geral, o Programa Cana IAC tem uma ação muito próxima dos produtores. Além das reuniões do Grupo Fitotécnico, ocorreram seis reuniões gerais, neste ano, do principal projeto do IAC, que é o de melhoramento genético. Houve também a realização de vários cursos de MPB com a participação de produtores de cana – informa.

“Faz parte da nossa missão a difusão da tecnologia gerada na pesquisa. Boa parte do trabalho no Programa Cana IAC é voltada ao fornecedor. Esta atividade se tornou mais intensa a partir do momento que algumas associações se estruturaram e geraram ambientes de difusão. E isto começou a acontecer quando a Orplana se reorganizou neste novo projeto de gestão”, enfatiza.

 


 

Leonardo Ruiz | Cana On Line
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