De tempos em tempos a humanidade é confrontada com um novo desafio sanitário. Foi assim com a gripe espanhola e tem sido desta forma com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Pesquisadores do mundo todo trabalham para encontrar uma vacina, o que garantiria a imunidade da população e salvaria milhares de vidas. Na agropecuária, a busca por vacinas não é muito diferente do processo do desenvolvimento deste produto para os humanos. Os trabalhos levam anos e precisam de investimento contínuo em ciência e tecnologia. O médico-veterinário do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Ricardo Spacagna Jordão, que é especialista no desenvolvimento, otimização e produção de vacinas, conta o passo a passo para o desenvolvimento desses produtos para animais de produção.

Jordão explica que as vacinas são bastante usadas na produção animal, na criação de bovinos, suínos e aves, sendo as mais conhecidas as que imunizam os animais para Febre Aftosa, Brucelose, Raiva, Parvovirose, Newcastle, Gumboro entre outras.

Segundo o médico-veterinário do IB, as vacinas para uso veterinário levam 18 meses, no mínimo, de estudos e testes para serem disponibilizadas ao setor de produção. “Na área humana isso pode levar ainda mais tempo, visto que possuem diferentes fases na espécie alvo, ou seja, em pessoas”, afirma Jordão, que realizou no seu Mestrado ensaios em que desenvolveu vacina contra a Diarreia Viral Bovina (BVD) com o emprego de estirpes nacionais do vírus, já que no mercado, apenas vacinas importadas eram comercializadas.

O desenvolvimento de uma vacina precisa passar por diversas etapas, pois os micro-organismos possuem mecanismos de ação específicos que precisam ser estudados. “Existem diversos tipos de vacinas para uso veterinário, dentre elas as de organismo atenuado ou inativado, toxóide, subunidades, proteínas recombinantes, conjugadas, vetores recombinantes e vacinas de DNA. Isto mostra o quão complexo é o processo, sendo que dentro de cada tipo de vacinas existem diversos inativantes, adjuvantes e mecanismos de seleção de proteínas”, afirma Jordão.

A maior dificuldade, segundo o médico-veterinário do IB, está na fase de testes clínicos, ou seja, realizados em humanos ou em animais de produção, no caso das vacinas para uso veterinário. “Infelizmente, a ciência ainda não encontrou como simular em computador todas as variáveis dos organismos, como o sistema imune e os hormônios, por exemplo. Por isso, a necessidade de as vacinas serem testadas em laboratório e em modelos biológicos, para verificar exaustivamente sua capacidade de estimular o sistema imune e garantir sua segurança”, afirma.

Jordão explica que apesar das semelhanças no processo de desenvolvimento e de produção, as vacinas para humanos são mais complexas e difíceis de serem desenvolvidas do que as de uso veterinário. Isso porque na formulação das vacinas para os animais de produção podem ser empregadas matérias-primas que não são aprovadas para uso em humanos, como alguns adjuvantes, que para a medicina humana, basicamente são apenas aprovados os sais de alumínio. “Por outro lado, as vacinas para humanos possuem custo por dose mais alto do que as para animais de produção, por isso, nelas se podem usar tecnologias mais avançadas”, explica.

 

Investimento contínuo em ciência – “A ciência não fica parada entre uma pandemia e outra. Precisamos sempre estar prontos para enfrentar batalhas, por isso, a necessidade de estudos para que quando um problema desse ocorra, termos ferramentas para dar soluções rápidas”, afirma Jordão.

Segundo o médico-veterinário do IB, os cientistas aprendem com outras doenças o mecanismo dos vírus, como no caso do chamado Sars-Cov-2, causador da Covid-19, que teve seus “irmãos”: Sars-Cov, transmissor da doença SARS, isolado em 2002, e o MERS-COV, isolado em 2012. Isso permite que agora se tenha dezenas de vacinas em processo de desenvolvimento e teste.

“Durante a pandemia os cientistas buscam entender o vírus: qual sua composição, como ele entra nas células, como ele se replica e quais mecanismos das células ele utiliza. Tudo isso para tentar traçar estratégias de cultivo, isolamento e identificação. Definindo isto, é possível sabermos a quais produtos ele é sensível”, explica.

 

IB auxilia na produção de novos kits de diagnóstico e vacinas – O Instituto Biológico (IB-APTA), um dos seis Institutos de pesquisa ligados à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), desenvolve projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) para o emprego de tecnologias e equipamentos inéditos no Brasil, que auxiliarão na melhoria de bioprocessos e produção de novos kits de diagnósticos e vacinas de uso na agropecuária.

Além do desenvolvimento de novos produtos, o IB também atua em projetos para otimização de vacinas, seja para purificação proteica, melhoramento no rendimento dos cultivos, melhorias em etapas de produção, avaliação de eficácia e no desenvolvimento completo de um imunobiológico.


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