Com o fechamento das escolas, membros da Associação Agroecológica de Cruzeiro viram no contrato para a entrega de cestas à Prefeitura uma oportunidade para minimizar as perdas e obter renda. Os produtores contaram com o apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Casa da Agricultura local, integrada à Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Guaratinguetá, para acessar o programa de compras públicas.

O município de Cruzeiro tem pouco mais de 82 mil habitantes e uma produção agrícola diversificada, conduzida principalmente em pequenas propriedades. Neste contexto, alguns produtores fizeram a opção pelo sistema de produção agroecológica, aproveitando a geografia e o clima do município, localizado na Serra da Mantiqueira.

“Formamos a associação há alguns anos, com total apoio da Casa da Agricultura, tanto com orientações técnicas para produção como para estruturação de gestão. Conseguimos junto à Prefeitura autorização para a implementação da ‘Feirinha’, que se tornou tradicional na cidade; iniciamos um projeto de venda direta de cestas de produtos e, após superar muitas dificuldades e negociações junto ao poder público municipal, para mostrar a importância da aquisição de produtos locais e não somente de outras regiões (como maçã e pêra), conseguimos acessar as compras públicas da merenda escolar, que se tornaram o carro-chefe da nossa comercialização”, explicou Rafael de Oliveira Fonseca, presidente da Associação. “Com a quarentena, por conta da pandemia, praticamente todos os nossos canais de comercialização se fecharam. Conseguir comercializar um pouco da produção, por meio da entrega de cestas, foi um grande alívio e veio em um momento decisivo”, relatou.

O produtor lembra que essa comercialização não foi apenas importante para os associados, mas para muitos produtores do município. A Associação fechou com a Prefeitura a entrega de quase 700 cestas apenas para as creches, pois não conseguiriam atender toda a rede municipal. “Falamos com os representantes da Educação e da Agricultura sobre as perdas da nossa produção e a programação da colheita. Apesar de termos uma produção diversificada, que inclui diversas folhosas, tomate, cenoura beterraba, milho, chuchu e abóbora; cebolinha e salsinha; alguns temperos, como tomilho e alecrim, além de mandioca e inhame; frutas, como banana e maracujá; e ainda Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), como ora-pro-nóbis e taioba. Propusemos formar as cestas com outros produtores de Cruzeiro para atender ao volume necessário, o que foi possível por conta da legislação vigente”, conta Rafael.

Paula dos Reis Inácio de Souza, zootecnista responsável pela Casa da Agricultura, complementa o relato do presidente da Associação. “Sempre consideramos importante o trabalho de fortalecer as organizações rurais. Em Cruzeiro, esta é a segunda associação apoiada pela Casa da Agricultura de Cruzeiro e pela CDRS Regional Guaratinguetá. O diferencial dela é o modelo de produção agroecológico, com foco nas vendas institucionais. “Trabalhamos intensamente em 2019 para conseguir viabilizar a participação dos produtores na Chamada Pública da merenda escolar. Fizemos um trabalho conjunto com os produtores de planejamento e custo de produção, com foco no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e na Feira Agroecológica, contando com o apoio dos colegas da CDRS Regional Guaratinguetá e outras Casas da Agricultura da região. Os produtores estavam começando as entregas de seus produtos para a Prefeitura, quando as aulas foram suspensas”, explica Paula.

A zootecnista continua o relato, acrescentando: “Como faço parte da Comissão de Uso e Ocupação do Solo Rural de Cruzeiro, discutimos a possibilidade da compra de alimentos dos participantes do PNAE, para as pessoas em vulnerabilidade social neste momento de crise.O presidente do Sindicato Rural de Cruzeiro e Lavrinhas, Wander Bastos, sempre parceiro, apoiou a ideia. Os produtores, por sua vez, negociaram com a Prefeitura para driblar as dificuldades impostas como, por exemplo, a manipulação dos alimentos e o risco de contaminação dos funcionários da ‘Cozinha-piloto’, tomando para si a responsabilidade de montagem e entrega das cestas, de 15 em 15 dias, sendo que a primeira entrega de 182 cestas foi realizada no dia 27 de abril. Essa ação agora resultará na redução dos prejuízos dos produtores”.

A expectativa dos produtores é a normalização das entregas para a merenda escolar, logo após a reabertura das escolas. “Até lá, continuaremos com as entregas dos kits, para que possamos dar vazão à nossa produção, garantindo renda para os associados e aos outros produtores que aceitaram o desafio de montagem e entrega das cestas conosco, bem como uma alimentação saudável para centenas de famílias”, ressalta Rafael.

Segundo o engenheiro agrônomo Jovino Paulo Ferreira Neto, diretor da CDRS Regional Guaratinguetá, esta linha de trabalho é muito importante. “A nossa região é caracterizada pela pequena produção; por isso, a articulação de ações é fundamental. Além de Cruzeiro, temos outros municípios atendidos pela Regional, onde as Casas da Agricultura desenvolvem ações de extensão rural com assistência técnica a pequenos produtores que adotam os sistemas de produção agroecológica e/ou orgânica, apoiando a organização de feiras locais e venda direta aos consumidores, bem como o fornecimento à alimentação escolar, com destaque para a atuação das Casas da Agricultura de Cunha e Piquete”.


Assessoria de Comunicação
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo