Clima de confiança e desafios para o agronegócio em 2020

por James Cisnandes Jr.

 

James Cisnandes Jr., Head de Agribusiness da Engineering, companhia global de Tecnologia da Informação e Consultoria especializada em Transformação Digital

O agronegócio tem um papel bastante relevante na economia brasileira. Sobretudo, quando olhamos o conjunto de cadeias produtivas, suas inter-relações e os elos que compõem cada uma dessas cadeias. Trata-se de um setor notadamente complexo, grande e muito consolidado, embora haja muito espaço para inovação e desenvolvimento, pois estamos falando de atividades milenares.

Por exemplo, podemos dizer que as empresas de base florestal têm sua estrutura de cadeia produtiva bem diferente da pecuária leiteira. Ou ainda, podemos pensar no setor sucroenergético, que começa no plantio da cana-de-açúcar, passando para a indústria, que produz uma infinidade de produtos, entre eles, os mais conhecidos, o açúcar e álcool. Notadamente, cada subsegmento do agro, ou seja, das cadeias produtivas, têm os seus desafios, necessidades e está em níveis diferentes de maturidade tecnológica.

As projeções do mercado para o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil indicaram na última semana do ano mais uma elevação positiva, totalizando a oitava semana consecutiva de aumento. Isso somado aos acordos internacionais firmados ao longo do ano representam um celeiro de oportunidades para a agroindústria brasileira. É notável que a consolidação das ações de profissionalização neste setor é o grande avanço previsto para 2020.

Uma das alavancas veio com a popularização do acesso à internet e a disponibilidade de cursos de qualificação, que têm expandido as condições de especialização. Não há mais obstáculos para um médico veterinário que reside em Rondonópolis, no Mato Grosso, conseguir fazer um curso de especialização na USP/ESALQ sem sair de casa, por exemplo. Essas novas condições permitiram um aumento exponencial da profissionalização. Basta olharmos o número de formandos nos últimos anos em cursos de graduação, especialização e cursos técnicos em diversas disciplinas ligadas direta ou indiretamente ao agronegócio.

E esses novos profissionais espalhados pelo país estão elevam o nível de planejamento, de controle e de gestão das atividades nas diversas cadeias produtivas. Eles impulsionam a modernização. Neste sentido, é importante destacar 4 aspectos fundamentais e complementares para o avanço do segmento:

  • Qualificação da mão de obra profissionais:
    Está mais do que provada a necessidade de qualificação e isso já está na pauta dos empresários da agroindústria e também dos profissionais que trabalham no agronegócio.

 

  • Desenvolvimento tecnológico de equipamentos e sistemas:
    É preciso falar de forma genérica, tendo em vista que cada empresa está num nível de maturidade diferente. Há empresas investindo na modernização de equipamentos, como também há empresas que estão um passo à frente fazendo uso inteligente dos dados já armazenados, o que envolve novas modalidades tecnológicas, como o Data Driven, o Data Monetization e o Machine Learning, entre outros recursos.

 

  • Evolução e modernização na gestão das empresas do agronegócio:
    Gosto muito da frase que diz “o que não é medido não pode ser gerenciado”. E, acreditem, fico muito feliz em constatar que isso já é realidade em várias empresas do segmento e em diversas regiões do país. Ao longo do ano, em contato com diversos profissionais do setor, tais como produtores rurais, técnicos veterinários, zootecnistas, agrônomos e, principalmente, empresários, percebi um movimento forte e consistente no sentido de tratar a gestão como ciência e, como tal, não ser totalmente dependente do famoso “achismo”. O produtor rural sabe que precisa de apoio técnico e já entende que precisa deste recurso, seja de forma completa ou por demanda. A associação com cooperativas também é alvo para contar com esse tipo de apoio.

 

  • Sustentabilidade:
    O novo mercado consumidor, a nova estrutura familiar e as exigências de países importadores vão apertar ainda mais o cerco pela garantia de originação, ou seja, da rastreabilidade. A nova geração está sedimentada em um novo paradigma de consciência ambiental. Daí as preocupações com a sustentabilidade, que tendem a se tornar mais rigorosas, como um critério sine qua non.

Podemos concluir, portanto, que é notável o clima de confiança e consciência dos desafios ligados à profissionalização do setor, em ritmo, intensidade e abrangência sem precedentes em nosso país. O agronegócio, antes lembrado apenas por símbolos tradicionais como o chapéu, botina, cavalo, vacas e tratores, agora ganhou uma conotação bem digital. Estamos falando de máquinas autônomas, produtores com tablets e smartphones, drones, mapa de colheita na tela do tablet, sistemas de ordenha automáticos (sem interação humana), dentre outros recursos que têm transformado este segmento e está atraindo novos profissionais e empreendedores, que chegam com uma visão bem diferente do tradicional. 2020 está aí… Bem-vindos à disrupção da era digital no campo!


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