Autofarm deve apresentar tecnologia em breve, e já se prepara para nova rodada de investimentos

 

Vermelhinha, doce e suculenta, a maçã que chega para matar a fome na hora do lanche é resultado de um complexo processo que começa com o cultivo no campo e tem, na colheita, uma de suas etapas mais delicadas. Sensível, a fruta requer uma série de cuidados no momento de ser retirada da árvore e transportada para o acondicionamento. Até hoje, esse é um trabalho feito manualmente pelos pomares ao redor do mundo todo – tarefa sazonal, que precisa ser cumprida em um curto intervalo de tempo, exigindo grandes movimentos de contratação de mão de obra temporária – cada vez mais escassa e difícil de recrutar.

Uma startup da Serra gaúcha está agregando expertise, conhecimento e muita tecnologia para buscar o desenvolvimento de uma solução capaz de resolver esse problema desafiador pela complexidade envolvendo a colheita da maçã (e, depois, também com possibilidade de aplicação a outras frutas similares). A empresa Autofarm trabalha em um equipamento para automatizar o processo de retirada dos frutos da macieira – percorrendo de forma autônoma o terreno do pomar e, por meio de inteligência artificial, identificando os frutos, que são colhidos por um braço mecânico com garra flexível.

“A colheita da maçã é um dos pontos mais complexos para o produtor, especialmente diante do gargalo cada vez mais latente que é falta de mão de obra para o trabalho. Encontrar e contratar mão de obra temporária tem sido uma verdadeira dor de cabeça — situação que ocorre não só no meio rural, mas em diversos outros setores produtivos. Diante desse impasse, a Autofarm vem desenvolvendo um projeto que pretende ajudar o produtor a automatizar o processo, permitindo, inclusive, que ele consiga escalonar seu negócio no futuro”, explica Tobias Grazziotin, um dos fundadores da empresa, idealizador e executor do projeto.

Tobias Grazziotin e Leonardo Girotto, idealizadores da startup Autofarm. © Augusto Tomasi

O equipamento que está sendo desenvolvido apresenta uma plataforma autônoma,, capaz de se geolocalizar e movimentar tanto via satélite como por meio de câmeras de visão que mapeiam o ambiente, garantindo a segurança na operação. Nela, um braço robótico de seis eixos, conhecido como robô antropomórfico, simula o movimento do braço humano. Na ponta, uma garrafa flexível delicada é capaz de colher sem danificar o fruto.

A versão final terá quatro braços robóticos capazes de trabalhar de forma simultânea — o que significa a possibilidade de colher duas maçãs por segundo em sua velocidade máxima de operação. Em uma safra, é estimado que uma unidade do equipamento desenvolvido pela Autofarm poderá colher 842 toneladas da fruta. “Para o produtor, isso significa uma economia superior a R$ 210 mil por colheita”, explica.

Atualmente existem algumas empresas ao redor do mundo que buscam desenvolver a mesma solução, porém não existe no mercado um equipamento comercialmente disponível que automatize a colheita da maçã. Há plataformas auxiliares que apenas facilitam o processo manual. “Isso porque estamos diante de um desafio extremamente complexo. Estamos agregando muita expertise em engenharia mecânica, em robótica, em Inteligência Artificial e bastante inovação no desenvolvimento dessa solução”, conta Grazziotin. A Autofarm é uma startup agtech da empresa Fênix FabLab, de Caxias do Sul, controladora e executora do projeto. A iniciativa tem dois investidores estratégicos, que além de aportarem recursos, agregam tecnologia e conhecimento ao projeto: a G&A Cemin Máquinas e Equipamentos Industriais, também da mesma cidade, e a Dalca Brasil, de Bento Gonçalves.

 

Oportunidade global – O projeto de autoria da Autofarm foi submetido e aprovado pelo Programa Finep 2030 Empresarial e aguarda possível liberação de recursos provenientes desse fundo. Enquanto isso, busca investidores da iniciativa privada para viabilizar as próximas etapas de desenvolvimento. O protótipo do equipamento já existe e deve ser apresentado para os primeiros testes em campo em março deste ano, durante o período de colheita da maçã na Serra gaúcha. Sua versão definitiva tem previsão de conclusão em prazo de cinco anos.

“É, de fato, um projeto desafiador. Porém, suas oportunidades de mercado são enormes, na mesma proporção da complexidade da solução que estamos buscando desenvolver”, conta Grazziotin. O Brasil produz, em média, 1 milhão de toneladas da fruta por ano, com custo de colheita de aproximadamente R$ 0,25 por quilo. No mundo, são 90 milhões de toneladas/ano, ou seja, um mercado de aproximadamente 4 bilhões de dólares. “Para uma montadora que venha a adquirir a tecnologia que estamos desenvolvendo, as oportunidades de mercado são extremamente férteis, no cenário nacional e principalmente fora do país”, garante Grazziotin.


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