Safra produzida por cooperados do Ceppec (MS) quase dobra de 2020 para 2022, chegando a cerca de 100 toneladas de frutos coletados e processados; mais de 100 famílias foram beneficiadas

Graças à atuação de organizações como o Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec), associação sediada no assentamento Andalucia, a 220 quilômetros de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, a cadeia produtiva do baru é uma das mais estruturadas do bioma. Ligado à Central do Cerrado, o Ceppec desenvolve com apoio do WWF-Brasil projetos que ajudam as famílias a obterem renda com o fruto.

Eliane Sanches e Silvano Valério, por exemplo, se estabeleceram no assentamento Andalucia há 20 anos. No quintal do casal há bananal, horta, pomar, roças de mandioca, feijão, café e algumas vacas, bezerros, galinhas e porcos, que garantem a subsistência da família composta por quatro pessoas. “Temos também algumas árvores nativas, incluindo dezenas de pés de baru. Mas, por todos esses anos, nunca demos muita atenção a eles”, lembra Eliane.

O casal sabia há tempos que a castanha de baru é considerada um superalimento e uma iguaria tão rentável quanto a castanha-do-Brasil, com grande potencial comercial, inclusive para exportação. “Mas a gente nem colhia o baru porque não tinha para quem vender. Tudo se perdia no quintal e na pastagem. Hoje, colhemos, armazenamos e entregamos para o Ceppec para comercialização”, explica Eliane.

Dos cerca de 70 pés de baru que existem no quintal, 22 estão produzindo. O casal coleta mensalmente cerca de 15 sacas de 30 quilos. “Também começamos a quebrar o baru. Cada saca de 30 quilos brutos rende, em média, um quilo de castanha de baru. O Ceppec paga cerca de 70 centavos pelo quilo bruto e 16 reais pelo quilo de castanha de baru”, conta Eliane. Silvano acrescenta que o trabalho com o baru aumentou de 800 reais a mil reais a renda da família. “Nos últimos dois meses pegamos firme e complementamos nossa renda em 1.800 reais. É um dinheiro muito importante para nós”, diz ele.

“Nossa fonte de renda se resumia aos bezerros, mas levamos oito meses para criar e vender um animal e usamos tudo para recuperar pastagens degradadas”, comenta Silvano. Segundo ele, as duras condições, a renda escassa e a falta de apoio levavam muita gente a abandonar o assentamento. “Hoje, isso mudou. Muitas famílias mandam o filho estudar na cidade, mas permanecem no campo graças à renda do baru”, salienta.

De acordo com Altair Souza, diretor do Ceppec, o assentamento Andalucia é constituído por 164 famílias. Nem todas fazem parte da associação, mas a atuação do Centro se estende também a outras comunidades. “Desde 2021, a parceria com o WWF-Brasil consolidou nosso trabalho em assentamentos, territórios indigenas do povo Terena e comunidades quilombolas em dez comunidades de Mato Grosso do Sul. Todas com forte protagonismo de mulheres”, afirma.

 

Safras em crescimento – Souza explica que o Ceppec foi criado em 2003, incubado pela ONG Ecoa — Ecologia e Ação, e hoje é apoiado diversas organizações e pelo Projeto Cerrado Resiliente (Ceres), composto por ISPN, WWF-Brasil, WWF-Paraguai e WWF-Holanda. “Atuamos nas cadeias de baru, pequi, jatobá, bocaiúva (macaúba) e outros produtos da sociobiodiversidade. Mas desde 2008 o baru se tornou nosso carro-chefe”, afirma.

A primeira parceria com o WWF-Brasil, em 2021, envolveu um investimento para fortalecer a cadeia do baru. Depois de um aditivo, em 2022, um novo contrato dará continuidade ao trabalho em 2023. Os recursos foram importantes para adequação da agroindústria, contratação de responsável técnico e equipamentos para melhorar a logística e articular a safra. Em 2022, a parceria também permitiu que o Ceppec participasse de um programa de Aceleração do Crescimento desenvolvido pelo Impact Hub e que resultou na construção participativa do Plano de Negócios para nossa organização.

A safra de baru produzida pelos cooperados do Ceppec passou de 55 toneladas em 2020 para 63 toneladas em 2021. A perspectiva é fechar 2022 com 99 toneladas, que depois de processadas resultarão em cerca de quatro toneladas de castanha. Souza salienta que “o apoio do WWF-Brasil foi fundamental, pois a articulação e a logística da cadeia são essenciais. Os recursos também foram investidos no processamento. Compramos um novo forno que torra cerca de 50 quilos de baru a cada 40 minutos. Antes, a capacidade era de dez quilos.”

Além de aumentar a renda das famílias, a valorização dos produtos da sociobiodiversidade ajuda a conservar o meio ambiente. “Hoje, quando o pessoal olha um pé de baru, de pequi ou de jatobá, vê aquilo com outros olhos. Ninguém derruba mais e a paisagem do nosso município está cada vez mais linda”, conclui Souza.

O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 26 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática.

AVIV Comunicação