O agronegócio em meio à instabilidade econômica: o peso de uma política que ignora quem sustenta o país

Por Leonardo Roesler

Publicações recentes do Boletim Focus, divulgadas pelo Banco Central trouxeram uma ligeira redução na expectativa de inflação para o ano. Embora o movimento indique uma tendência de desaceleração, a projeção ainda permanece significativamente acima do teto da meta de inflação, que é de 4,5%. Em paralelo, a taxa básica de juros, a Selic, permanece projetada em 15% para o fim do ano, enquanto o dólar é estimado na faixa de R$ 5,90. Tais números, por mais frios que pareçam, desenham um cenário de desequilíbrio estrutural que penaliza fortemente o setor que, há anos, tem garantido o mínimo de estabilidade econômica ao Brasil: o agronegócio.

Ao contrário do que muitos setores produtivos puderam experimentar nos ciclos de recuperação econômica ao longo da história recente, o campo segue operando em um ambiente de pressão sistêmica, onde o crédito encarece, os insumos disparam e o planejamento de longo prazo se torna cada vez mais difícil. A política monetária agressiva, mantida em virtude do descontrole fiscal e da falta de confiança do mercado nas ações do governo, impõe um custo altíssimo ao produtor rural, que precisa financiar safras, investir em tecnologia, renovar maquinário e ainda enfrentar riscos climáticos cada vez mais severos.

A cadeia de grãos, por exemplo, enfrenta um aumento consistente no custo dos insumos importados, como fertilizantes e sementes,  ao mesmo tempo em que o câmbio valorizado não garante mais o mesmo fôlego de exportação. A cadeia de proteínas animais sente o peso do milho caro, da energia em alta e do acesso restrito a capital de giro. Na fruticultura, o frete logístico e a falta de investimentos em armazenagem impactam diretamente a competitividade de produtos como manga, uva e melão nos mercados internacionais. Até mesmo cadeias historicamente resilientes, como a do café e do etanol, estão revendo suas estratégias diante da elevação de custos e da queda nas margens operacionais.

O mais preocupante é que esse cenário não decorre de fatores imprevisíveis ou de crises externas. É resultado direto da condução política e econômica interna. A ausência de uma âncora fiscal crível, a instabilidade regulatória, a retórica de confronto contra a iniciativa privada e a falta de políticas públicas estruturantes para o agronegócio criam um ambiente onde o produtor rural trabalha mais para sobreviver do que para crescer.

O Brasil, que poderia estar pavimentando o caminho para se consolidar como a maior potência agroalimentar do planeta, insiste em repetir erros de um modelo econômico míope, intervencionista e centralizador. O campo não precisa de discursos vazios nem de promessas eleitoreiras. Precisa de acesso a crédito com juros reais viáveis, segurança jurídica sobre a propriedade rural, apoio à inovação tecnológica e inserção global mais robusta por meio de acordos comerciais sérios.

Enquanto o agronegócio se adapta, busca alternativas e se organiza, investindo em hedge cambial, crédito verde, cooperativismo, seguros agrícolas e inovação, a política econômica nacional permanece paralisada em um discurso anacrônico, desconectado da realidade e hostil ao setor que mais entrega resultados concretos ao país.

Portanto, é preciso deixar claro: não há crescimento sustentável sem o campo. E não haverá um novo ciclo virtuoso de expansão econômica enquanto o governo federal continuar a ignorar ou deliberadamente fragilizar o setor que sustenta o Brasil. O agronegócio merece mais do que resiliência. Merece respeito, previsibilidade e condições reais para continuar fazendo o que sabe fazer melhor: produzir, alimentar o mundo e manter o Brasil em pé.

Leonardo Roesler é advogado tributarista e sócio do RCA Advogados; atua como Conselheiro Certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa; possui título de mestre em Administração e Finanças pela Ohio University; graduado em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI), em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e em Direito, com Dupla Titulação Internacional, pela Universidad de La Rioja, na Espanha.

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