Com safra desafiadora pela frente, especialista do Grupo Conceito aponta aplicações práticas e próximos passos para a tecnologia
A inteligência artificial (IA) já deixou de ser tendência para se tornar parte do dia a dia no agronegócio brasileiro. Está presente em máquinas, softwares, sensores e decisões estratégicas, ajudando produtores a enfrentar desafios como clima instável, custo elevado de insumos e pressão por produtividade.
A discussão ganha força em um momento em que o setor se prepara para uma nova safra sob condições climáticas incertas e com margens cada vez mais pressionadas, cenário que reforça a busca por tecnologias capazes de aumentar a eficiência e reduzir riscos no campo. Levantamento da PwC Brasil em parceria com a Fundação Dom Cabral, divulgado em janeiro de 2025, mostra que 36% das empresas do setor já utilizam IA e 45% empregam soluções de Internet das Coisas (IoT) — índices superiores à média de outros segmentos da economia. E os ganhos vão além da adoção tecnológica: estudo recente da ESALQ/USP indica que propriedades com alto nível de digitalização aumentaram em média 18,7% a produtividade, reduziram em 12,3% o uso de insumos e alcançaram rentabilidade 23% maior.
Com 13 anos de atuação no setor de agronegócios, o Grupo Conceito está preparado para lidar com o crescimento exponencial do volume e da complexidade dos dados no campo. A empresa implantou o ERP Protheus – sistema integrado para gestão e automação de processos –, migrou para operação 100% em nuvem e criou uma área dedicada de Inteligência de Mercado, responsável por desenvolver análises em business intelligence aplicadas a diferentes setores do negócio. Essa estrutura dá suporte à adoção futura de soluções avançadas de IA, capazes de apoiar desde a previsão de safra e otimização logística até a análise preditiva de mercado.
De acordo com Isrel Ramos, responsável pela área de Tecnologia da Informação do Grupo Conceito, o uso de drones e sensores conectados deve ganhar escala no curto prazo, especialmente por estarem mais acessíveis e com maior facilidade de integração às rotinas de campo. “O ideal é começar com o que já está disponível na propriedade, para evitar investimentos iniciais altos”, destaca. Para Ramos, os benefícios da IA já são claros, mas a ampliação do uso ainda enfrenta barreiras, especialmente entre pequenos e médios produtores. Ele cita como principais desafios a conectividade limitada no campo, o custo inicial para adoção de tecnologias e a necessidade de capacitação técnica para interpretar as informações e transformá-las em ações práticas.
O especialista aponta ainda que a próxima grande mudança no setor virá com a integração de dados de múltiplas origens em plataformas únicas e preditivas. “Hoje, sensores, drones, estações meteorológicas e sistemas de gestão geram informações valiosas, mas muitas vezes isoladas. O futuro está na convergência dessas fontes em um ecossistema inteligente, capaz de aprender continuamente com cada safra e gerar recomendações personalizadas para cada talhão”, projeta.
O interesse pelo tema também esteve presente na última semana, quando a Conceito Sementes sediou, em sua unidade de Rio Verde (GO), a 9ª edição do AgroClub Conecta, evento promovido pelo AgroClub Tecnológico — realizado pela primeira vez no estado. Voltado principalmente para produtores rurais e clientes, mas também com participação de profissionais e estudantes de tecnologia, o encontro reuniu cerca de 200 pessoas para discutir aplicações práticas da IA no campo. A programação incluiu pitchs de nove empresas parceiras, palestras de representantes da Vivo, Bayer e TMG sobre casos reais e um bate-papo com o produtor Charles Peeters, que compartilhou sua experiência na adoção dessas ferramentas.
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