A Agroforestry Carbon atraiu a atenção do mercado nacional promovendo projetos com foco em planejamento agroflorestal; em menos de três anos de história já 470 propriedades agroecológicas cadastradas

A compensação de carbono tem sido pauta de discussões do setor industrial, vinculado a questões climáticas e preocupações com o meio ambiente. Leis vem sendo formuladas para intensificar a responsabilidade de grandes empresas na proteção ambiental, diminuindo o impacto da indústria na natureza e incentivando práticas sustentáveis. A opinião pública também tem impacto nesse cenário. A compensação de carbono tem se mostrado boa alternativa, visando intensificar plantio de árvores em outras áreas para equilibrar emissões, alimentando um sistema mais responsável. Empresas especializadas em compensação de carbono abrem um caminho facilitador para o empreendimento sustentável – e tem ganhado destaque nacional.

A Agroforestry Carbon nasceu em 2021, na cidade de Palhoça, em Santa Catarina, com essa intenção. Gabriel Neto, diretor executivo da startup, passou um ano viajando pelo Brasil estudando sistemas agroflorestais regenerativos, entendendo o papel fundamental de pequenos agricultores engajados nessa prática. Mas estes não tinham acesso ao mercado de carbono. “Percebi que esse mercado, por ser caro, extremamente burocrático e, por vezes, pouco eficaz na abordagem do aquecimento global e da justiça climática, não estava atendendo às necessidades e oportunidades específicas desses agricultores comprometidos com a sustentabilidade”, explica. Conectando agricultores e empresas, Neto criou uma rede focada em sustentabilidade e com valor de mercado.

O sistema agroflorestal destaca um manejo integrado no qual coexistem o cultivo de árvores, plantas agrícolas e/ou criação de animais. “Costumo dizer que é essencialmente uma ‘floresta de comida saudável e nutritiva’”, comenta Neto. Essa prática traz benefícios que vão da melhoria do solo, recuperação de recursos hídricos, diversificação de renda para agricultores, fortalecimento da soberania alimentar e o sequestro mais efetivo de carbono da atmosfera. Essa última vantagem está entre os maiores interesses da indústria, pelo potencial de equilibrar suas emissões de gases que aceleram o efeito estufa.

“Ao escolher esse método, estamos indo além de simplesmente realizar a neutralização de carbono. Estamos contribuindo para a restauração da natureza, promovendo a produção de alimentos regenerativos e oferecendo suporte essencial a uma das classes mais impactadas pelo aquecimento global: os agricultores familiares”, o diretor executivo da empresa define. “A Agoforestry Carbon está comprometida em colaborar exclusivamente com pequenos agricultores que adotam regenerativas em sistemas agroflorestais. Estabelecemos parcerias com centenas de propriedades em todo o Brasil, fortalecendo assim nossa rede de agricultores engajados no propósito regenerativo”.

 

Resultados – Em dois anos, a empresa já conseguiu feitos marcantes. São 470 propriedades agroecológicas cadastradas no banco de dados da Agroforestry Carbon. São áreas manejadas por agricultores familiares experientes que adotam o modelo de cultivo em sistemas agroflorestais biodiversos. Em tamanho, isso representa 18.981 hectares cadastrados, dos quais 387,07 são dedicados exclusivamente aos sistemas agroflorestais.

E essas propriedades se expandem pelo Brasil. O Pará é o estado com mais registros, passando das cem propriedades. O alcance chega ainda no Acre, Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro, Amazonas e Ceará. O que significa que o projeto atinge variados biomas, passando pela Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pampa, além de doze propriedades internacionais – que demonstram a grandeza do projeto.

Com isso, no último ano, a Agroforestry Carbon registrou o plantio de mais de 280 mil árvores de 583 espécies diferentes. Todas são mapeadas com geotecnologias que confirmam a amplitude e eficácia do projeto. Entre as árvores mais plantadas, estão as de banana, açaí, cacau, café, erva-mate, cupuaçu, pau-mulato, embaúba, juçara e andiroba.

Apesar da contagem de resultados no sequestro de carbono ainda ser muito complexo, a startup apura pela quantidade e espécies de árvores, tipos de solo, material genético, clima e preparo do solo para entender qual impacto o reflorestamento pode alcançar. Pensando no modelo usado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Instituto Totum e SOS Mata Atlântica, que projeta o carbono fixado pelas árvores em um horizonte de vinte anos, adotou-se uma média de sete árvores para sequestrar uma tonelada de CO2 emitida. Assim, as árvores já plantadas pela Agroforestry Carbon, em vinte anos, terão sequestrado uma média de 40 mil toneladas de CO2.

O formato de reflorestamento da startup ainda favorece a agricultura familiar. Com o plantio de árvores frutíferas, pode-se gerar ainda um impacto na produção de alimentos. A estimativa é a produção de 6.966 toneladas de alimentos por ano. Ou seja, o impacto é duplo, ao conseguir sequestrar carbono e gerar alimentos, o sistema aplicado pela Agroforestry Carbon é benéfico tanto para grandes empresas em busca de zerar emissão de carbono quanto para os pequenos agricultores parceiros.

 

Indústria – O trabalho da Agroforestry Carbon em pouco tempo já chamou a atenção de grandes empresas. Foi citada na lista 100 Startups to Watch 2023 pelo seu impacto no setor, selecionada por um comitê formado por representantes de organizações, fundos de investimento e iniciativas públicas de fomento e jornalistas. “Essa notoriedade sugere não apenas uma valorização do comprometimento ambiental, mas também a percepção de que soluções inovadoras, como a compensação de carbono em sistemas agroflorestais, desempenham um papel crucial na busca por práticas mais sustentáveis”, destaca o diretor executivo.

A Gerolin Engenharia é uma das empresas que tem parceria com a startup. Preocupada em trazer a preocupação ambiental para seus projetos, a companhia focada em projetos industriais há mais de 20 anos, encontra soluções sustentáveis com a Agroforestry Carbon. “Buscamos soluções ecológicas que não apenas sigam as leis vigentes, mas também que se adiantem a elas, mostrando real preocupação com a sustentabilidade e visando diminuir o impacto do setor industrial na natureza”, explica o sócio proprietário da Gerolin Engenharia, Juliano Alves Gerolin. A Engenharia realiza com a startup o Inventário de Gases de Efeito Estufa, para compreender suas emissões e ajudando a tomar medidas proativas para compensar emissões com o plantio de árvores em sistemas agroflorestais de pequenos agricultores. “Hoje, somos uma empresa carbono neutro”, afirma Gerolin. Neto complementa: “Isso não apenas demonstra um compromisso ambiental sólido, mas também uma responsabilidade social, consolidando a imagem da empresa como líder em práticas sustentáveis e impacto positivo na comunidade”.

O exemplo de grandes empresas engajadas no sistema agroflorestal também impulsiona outras a apostar no negócio. Selos verdes que comprovem o engajamento de setores industriais com a sustentabilidade são cada vez mais visados, trazendo credibilidade e um atrativo para clientes que valorizem iniciativas eco-friendly. A consciência ambiental pode se tornar um diferencial para negócios internacionais, por exemplo, cada vez mais conscientes das questões ambientais.

 

Greenwashing – Os selos de empresas verdes têm se tornado tão impactante que surge um novo problema: o greenwashing. São empresas que se dizem preocupadas com o meio ambiente e expõe selos de neutralização de carbono sem de fato adotar práticas sustentáveis, apenas para impressionar o mercado. Há campanhas de conscientização sobre o tema, para que se intensifique a fiscalização e que se demonstre a real importância de apoiar projetos mais conscientes. A Agroforestry Carbon, por exemplo, planta árvores geolocalizadas e cadastradas, e oferece acesso direto ao local do plantio por QR Codes nos selos, além de monitoramento por satélite para acompanhar o desenvolvimento do plantio.

Com formas mais precisas de conferir a eficácia dos projetos sustentáveis, iniciativas como a da startup favorecem não apenas a fiscalização (que tende a se intensificar com novas leis ambientais) como formas eficazes de alcançar uma agenda ESG – integrando ambiente, social e governança. “À medida que as mudanças climáticas aceleram e os acordos internacionais se tornam mais urgentes, acredito que essa tendência irá se consolidar ainda mais. A exigência de compensação de emissões de carbono, seja por meio de taxas ou impostos, pode se tornar uma prática comum em diversos setores. O desafio agora é garantir a implementação efetiva dessas práticas e a conscientização contínua sobre a importância de ações sustentáveis em todos os níveis da cadeia produtiva. É essencial que as empresas estejam na vanguarda dessa mudança, adotando práticas ambientais inovadoras e contribuindo para uma economia mais verde e sustentável”, completa Neto.


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