Biodiversidade da Mata Atlântica permite obter compostos fúngicos de importância biotecnológica. Pesquisadora realizou coleta na Ilha de Alcatrazes (foto)

A Mata Atlântica foi o cenário de um estudo realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/Esalq) que propõe auxiliar no combate a doenças em humanos e na agricultura.

Desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola, a tese Metabólitos secundários produzidos por fungos endofíticos isolados de Anthurium alcatrazense e Begonia spp. teve como objetivo descrever a extração de compostos produzidos por fungos com aplicações na área médica (como antibióticos, remédios contra o câncer e leishmaniose) e na agricultura (como agroquímicos contra a antracnose e a seca da haste da soja).

O estudo tem autoria de Diana Fortkamp, orientação da professora Simone Possedente de Lira, do departamento de Ciências Exatas da Esalq, em Piracicaba-SP e faz parte do projeto Temático Biota FAPESP intitulado “Componentes da Biodiversidade, e seus Caracteres Metabólicos, de Ilhas do Brasil – Uma Abordagem Integrada”, tendo como pesquisador responsável o professor Roberto Gomes de Souza Berlinck.

“Buscamos isolar os fungos que habitam o interior de plantas, os quais são conhecidos como fungos endofíticos”, explica Diana.

Segundo a pesquisadora, as coletas das folhas de plantas foram realizadas na Mata Atlântica em dois lugares: no continente (Ubatuba-SP) e na Ilha de Alcatrazes (litoral do estado de São Paulo).

“No continente coletamos a planta Begonia fischeri (nome popular: begônia), e na Ilha de Alcatrazes as plantas Begonia venosa (nome popular: begônia), endêmica da Mata Atlântica, e Anthurium alcatrazense (nome popular: antúrio), endêmico da Ilha de Alcatrazes”.

Diana conta que alguns dos compostos fúngicos isolados nessa pesquisa foram ativos no combate ao alvo do proteassoma – alvo validado contra o câncer -, contra o fungo Colletotrichum gloeosporioides – um dos fungos causadores da antracnose, doença que afeta diversas culturas agrícolas – e contra o fungo Phomopsis sojae, causador do cancro e seca da haste e da vagem de soja.

“Outras frações fúngicas, cujos compostos puros ainda não foram identificados, se mostraram ativas contra a formação de biofilme de duas bactérias (Pseudomonas aeruginosa, Gram negativa e Staphylococcus aureus, Gram positiva), mostrando possibilidade de atuação conjunta com antibióticos”. Essa parte da pesquisa, relata a autora, foi realizada como parte do doutorado sanduíche de seis meses na Alemanha, no Helmholtz Zentrum für Infektionsforschung, na cidade de Braunschweig, sob a orientação do Dr. Wolf-Rainer Abraham.

“Ainda precisam ser realizados testes de toxicidade, entre outros, mas esses compostos isolados surgem como uma nova alternativa no combate a essas doenças”, finaliza.

A pesquisa contou com a colaboração de outras instituições, com o apoio do ICMBio e da Marinha, e com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Diana Fortkamp foi bolsista do CNPq e também da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


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