Organizar-se em grupos, cooperativas e associações e acompanhar as novas tecnologias disponíveis para o setor agropecuário serão medidas essenciais

O debate promovido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo teve a participação de Zander Navarro, pesquisador da Embrapa em Sociologia Rural; Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho); João Brunelli Júnior, titular da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) da Secretaria; e Isaac Leite, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo (Fetaesp) visou orientar o pequeno produtor e o agricultor familiar para que possam obter maior produtividade e adaptar-se às exigências do mercado nacional e mundial, na visão de especialistas da pesquisa, setor público e representantes do segmento produtivo.

O secretário Arnaldo Jardim ressaltou a importância do debate para o fortalecimento da agropecuária paulista. “Apoiar o pequeno produtor e agricultor familiar é uma das orientações do governador Geraldo Alckmin para que ele possa ampliar a produtividade e gerar mais renda no campo”, disse, durante a abertura do evento.

Ao identificar 1.145 cooperativas e associações no Estado, a Cati realiza ações e projetos de apoio às entidades e, com auxílio do Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA), proporciona suporte para que novas organizações de produtores rurais se constituam, conforme explicou Brunelli.

“Em 2016, auxiliamos o produtor na emissão de 29.500 Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs), ou seja, mais de 70% dos documentos emitidos no Estado. Em 2015, foram emitidas 11.900 Declarações de Aptidão ao Feap (DAF) e na elaboração de 27.900 projetos de crédito. Nosso trabalho é fazer com que o produtor tenha acesso a políticas públicas como de máquinas e implementos comunitários e apoio a pequenas agroindústrias”, disse.

A principal delas, o Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II – Acesso ao Mercado tem como foco financiar iniciativas de negócio voltadas ao mercado. “O apoio é mais no sentido de levar a informação e acesso dos produtores ao mercado do que na produção”, avaliou Brunelli, ressaltando que a agregação de valor ao produto é o caminho para atingir novos mercados.

Atualmente passando por uma reestruturação, a atuação da Cati levará em conta a preservação dos recursos naturais, com projetos como o Programa Nascentes, a recuperação de estradas rurais e o plano de conservação do solo, ações para recuperar e promover o manejo de recursos para uma produção sustentável. “Agregar valor é o segredo; se o produtor rural não fizer, alguém fará em outra etapa do processo. Então porque não trazer essa ação para dentro da porteira?”, indagou Brunelli.

Para o dirigente, a adoção de tecnologias modernas e a diversificação com produtos de maior valor agregado, mais próximos à necessidade do consumidor e a profissionalização são pontos-chave para que o pequeno produtor prospere. “Tudo isso se consegue com organização em grupos. Nosso agricultor tem que estar preparado e estruturado para o mercado competitivo”, finalizou.

Responsável por 70% do abastecimento do País, a agricultura familiar tem conquistado um maior espaço, sendo hoje uma importante geradora de empregos. “Somos agricultores, mas temos que acompanhar a evolução tecnológica para nos fortalecer e ter resultados. Hoje o agricultor tem uma boa condição de vida, vida social, algo que não se pensava há algumas décadas”, explicou.

Para o pesquisador Zander Navarro, nunca houve um período tão ameaçador para a agricultura familiar. “Em 2006, apesar de haver cerca de cinco milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, apenas cinco mil abocanhavam 87% da riqueza, número que hoje é ainda mais concentrado”, afirmou Navarro.

O pesquisador ressaltou ainda ser necessário acabar com a segmentação entre o agronegócio e a agricultura familiar, pois mesmo um grande conglomerado pode ser gerido de forma familiar. “Os americanos veem agricultura como negócio. No Brasil deveríamos terminar com segmentação de familiar e agro e olharmos o mundo rural e seus problemas, buscando um planejamento que considere a heterogeneidade do País ”, ponderou.

É preciso ainda observar a brutal transformação no ambiente rural, sendo que o País que há 50 anos produzia apenas o café, está na iminência de se transformar em maior produtor de alimentos e matéria prima da agropecuária do mundo. “A agricultura não aceita baixa produtividade, que passou a ser o coração do setor. Para ampliar volumes de produção é preciso estar aberto a mudanças tecnológicas, pesquisa agrícola que o ajuda a competir com produtores de maior escala. É preciso ter inquietação para testar novas tecnologias”, concluiu Navarro.

Evolução que também foi destacada na opinião do ex-ministro Allysson Paolinelli. “Na década de 1960, o brasileiro consumia quase a metade de sua renda familiar em alimentação, algo que atualmente ocorre em Bangladesh, que não tem capacidade de produzir. Como modificamos isso no Brasil? Com a capacidade inovadora, ciência, tecnologia e inovações para criar uma agricultura tropical que estarrece o mundo. Produzimos alimentos mais baratos, de melhor qualidade e com preços competitivos”, afirmou.

Para Paolinelli, a agricultura brasileira se diferencia por ser altamente sustentável, mas que precisa ser melhor difundida ao mundo. “Nossa agricultura sustentável garantirá segurança alimentar. O mundo busca alimentos mais saudáveis e o pequeno agricultor é capaz de gerenciar, administrar e ter tecnologia, irá se beneficiar do mercado de orgânicos. Precisamos apenas de lideranças e vontade política”, avaliou.

O extensionista é fundamental na transferência de novos conhecimentos e práticas necessárias aos produtores de menor porte “Só sobrevive quem for eficiente, em todos os sentidos, inclusive na questão da produção sustentável, afirmou o dirigente da Assessoria Técnica da Secretaria, José Luiz Fontes.

Estudantes do primeiro ano de agronomia da Fundação Educacional de Ituverava (Fafram), Hernandes Machado Canhadas Silva e Carlos Eduardo Xavier avaliam ser fundamental frequentar palestras que integrem os técnicos e universitários. “A agricultura é o futuro do Brasil. Escolhi essa profissão porque vejo boas chances de atuar, pois sempre será necessário produzir alimento”, afirmou.

O pecuarista de leite Marcio Yoshinori Ueno, presidente do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável Regional de Presidente Prudente, afirma que os pequenos produtores anseiam pela assistência técnica e extensão rural. “Quem está no campo produzindo muitas vezes não tem tempo para acompanhar as novas tecnologias e os técnicos das Casas da Agricultura são importantes para trazer informações, orientar quais as melhores culturas, como obter crédito”, avaliou.


Assessoria de Comunicação
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Paloma Minke