Os descuidos com os pneus resultam em maior custo operacional do veículo, menor capacidade de reforma da carcaça (menos vida útil) e maior risco à segurança dos ocupantes, além de aumentar as agressões ao meio ambiente. Precauções simples podem evitar todos esses problemas

É comum muitos proprietários e operadores de máquina agrícola cuidarem mais dos equipamentos eletrônicos do que dos pneus. Quem faz isso provavelmente não sabe que esse descaso tem um “preço”. As consequências podem ser maior consumo de combustível, menos horas de vida útil e menor capacidade de reforma da carcaça.

O ideal, claro, não é inverter as prioridades, mas dedicar a mesma atenção. Afinal, manter os pneus em boas condições evita, inclusive, danos a outros sistemas do veículo, como a suspensão.

Ademais, o pneu não é mais apenas o que aparenta. Hoje em dia é um equívoco enxergá-lo somente como um composto de borracha, metal, nylon e outros materiais simples, pois o chip e a tecnologia da informação já fazem parte das linhas top dos veículos de carga, e daí para estarem em todas as faixas e segmentos não levará muito tempo.

No setor agrícola os principais fabricantes informam que as mais recentes inovações foram implantadas nos radiais, e reduzem a compactação do solo e melhoram a capacidade de tração. Os resultados econômicos destacados são melhora da produtividade da máquina e redução de custos operacionais, principalmente de economia de combustível, fator esse que gera outro benefício: o ambiental.

Alexandre Stucchi, gerente de marketing para pneus agrícolas da Pirelli detalha os números. “Em geral, os pneus agrícolas que usam tecnologia verde contam com rendimento quilométrico até três vezes superior a um pneu convencional equivalente, além de economizar até 25% do consumo de combustível sobre seu similar de construção convencional”, garante.

Quanto dura? | Questão delicada, a vida útil de um pneu agrícola nem sempre é revelada pelo fabricante. Das três empresas entrevistadas para essa matéria apenas uma respondeu objetivamente à pergunta sobre durabilidade.

“A média é de cinco mil horas para pneus de construção convencional. No caso dos radiais, é possível chegar até nove mil horas de uso, dependendo das condições de utilização. Contudo, é importante salientar que estes rendimentos dependerão do tipo de cultura e solo onde os pneus estão sendo utilizados e até mesmo das condições operacionais do trator”, disse Alexandre Stucchi da Pirelli.

Christian Mendonça,
diretor de Comércio e Marketing de Pneus Agrícolas da Michelin América do Sul

Christian Mendonça, diretor de Comércio e Marketing de Pneus Agrícolas da Michelin América do Sul informou que “…tipos de máquinas, potências variadas, solos e culturas diferentes fazem com que obter um número absoluto é praticamente impossível”.

Raciocínio semelhante ao da BBTS (Bridgestone), cujo diretor Comercial Marcio Aoki respondeu: “A duração de um pneu depende das condições operacionais de uso. Por exemplo, fatores como potência do equipamento, tipo de cultura e periodicidade de manutenção afetam a durabilidade do pneu”.

Diferenças | Há dois tipos de pneus agrícolas: diagonal e radial. Sobre as diferenças entres, Alexandre Stucchi explica: “Na estrutura diagonal, a carcaça é constituída de lonas cruzadas uma em relação à outra. A estrutura radial representa uma evolução construtiva, onde a carcaça é constituída de uma ou mais lonas cujos cordonéis estão paralelos e no sentido radial. Esta estrutura é estabilizada pelas cinturas que se encontram sob a banda de rodagem”.

Mas, Christian Mendonça, da Michelin, acrescentou uma opinião que também achamos conveniente divulgar: A radialização do mercado brasileiro será fundamental para o aumento da produtividade agrícola”. Essa afirmação veio seguida de um dado estatístico enviado pela própria empresa: “No Brasil, apenas cerca de 5% dos pneus agrícolas vendidos no mercado de reposição são radiais enquanto na Europa 85% já são radiais”.

Quanto à diferença de preço entre os modelos, Marcos Aoki, da Bridgestone, disse que o radial “ é aproximadamente 15% maior que o preço de um diagonal”.

Marcos Aoki,
diretor comercial da Bridgestone

Mas, o proprietário da máquina pode utilizar qualquer um dos modelos no momento da reposição, mesmo que que não seja o original. Assim, caso tenha um trator com pneus radiais pode tocar por diagonais. É preciso apenas “estar atento às características dimensionais, como circunferência de rolamento”, lembra Aoki. O diretor da Michelin diz que a maioria das máquinas permite mais de uma combinação dimensional. “É possível equipar com outras soluções que aumentem as performances das máquinas. É comum vermos no mercado tratores que durante o trabalho de arado do solo usam pneus extralargos e durante o período de pulverização usam pneus super estreitos”.

Reformado, remoldado…? | No questionário enviado às fábricas havia duas questões solicitando opiniões. Uma sobre pneus remoldados; a outra, sobre reformados. Duas empresas responderam o questionário, porém, sem citar nada – como se as questões sobre remoldados e reformados não existissem. A única que as reproduziu e as respondeu foi a Michelin. As respostas tiveram o mesmo texto que reproduzimos na íntegra: “Para os pneus agrícolas não possuímos consignas técnicas” (Então, leia mais sobre reforma na continuação da matéria e no box).

Os executivos, porém, não hesitarem em responder à pergunta sobre cuidados que o produtor deve ter ao comprar ou reformar um pneu. Segundo Marcos Aoki, ele “deve se certificar que o pneu atenda às necessidades de sua operação e esteja de acordo com as especificações de seu veículo”.

Alexandre Stucchi, da Pirelli recomendou respeitar as medidas indicadas pelo fabricante do equipamento, “porque medidas diferentes podem alterar sua função original”.
Christian Mendonça, da Michelin, sugeriu que “a escolha deve recair sobre o pneu que lhe proporcione menor custo operacional, melhora das performances da máquina, aumento de produtividade da lavoura além de aspectos técnicos tais como dimensões adaptadas, capacidade de carga e de velocidade compatíveis com a máquina a equipar e o tipo de trabalho a realizar”.


Produto de muitas vidas

A carcaça de um pneu de trator ou de colheitadeira suporta, em média, duas reformas, informa a ABR. Assim, o produto pode ter até três vidas úteis, incluindo a original

Roberto de Oliveira,
presidente da ABR – Associação Brasileira de Reforma de Pneus

Usar corretamente os pneus faz bem ao meio ambiente e à economia do proprietário da máquina agrícola. Segundo a Associação Brasileira de Reforma de Pneus (ABR), o produto reformado possui rendimento quilométrico semelhante ao novo, com custo 73% menor. Na média, “proporciona redução de 57% no custo/km”. Redução de emissão de gases – devido ao menor consumo de combustível – é o benefício ambiental.

Para a carcaça atingir a capacidade máxima de reforma – média de duas vezes para o diagonal e de uma para o radial – os cuidados recomendados são simples: manter a pressão do pneu correta e “evitar terrenos com obstáculos – pedra, pau, toco etc”, orienta Roberto de Oliveira, presidente da ABR.

Para escolher a reformadora o ideal é pesquisar e certificar “se a empresa cumpre suas obrigações como cadastramento no IBAMA, se tem licença ambiental de operação, alvará de funcionamento e registro no Inmetro – para reformadores que lidam com pneus comerciais.

Roberto Oliveira salienta que o reformador deve oferecer garantia de mínima de 90 dias “conforme o código do consumidor”. Mas, muitos assumem compromisso por um “período maior”, complementa ele. Então, o ideal é pesquisar e fazer o serviço com quem oferece melhores condições de preço e prazo – em ambos os casos a qualidade é indiscutível.

O presidente da ABR também explica a diferença entre reforma e remoldagem. “ A reforma possui serviço de recapagem, que acrescenta banda de rodagem na carcaça de pneu, e a e recauchutagem, que inclui banda de rodagem mais parte da lateral da carcaça do pneu”.  Esse último é o sistema utilizado nos pneus agrícolas. “A remoldagem – acrescenta a banda de rodagem mais as laterais (talão a talão) ”.

Ao comentar o fato de bandas de rodagem se soltarem, Roberto de Oliveira enfatiza que isso acontece não apenas com pneus reformados, mas também com os novos. Ele alega que estudos mostram que o problema “está ligado diretamente a falta de cuidados na manutenção e controle, ocasionado por pressão inadequada ou sobrecarga nos pneus”.


Nas estradas e campos

Profissional de usina relata como lida com os pneus nos agrícolas e de transportes e apresenta sugestões para retirar o máximo dos produtos

Julio Malvestiti é supervisor de manutenção da Usina Ferrari, empresa produtora de etanol e açúcar situada em Santa Cruz das Palmeiras (SP). A frota gira em torno de 800 veículos entre caminhões, tratores e implementos. No período de safra, mais de 4.000 pneus da usina rodam diariamente em diversas operações no asfalto e na terra.

Frequentemente o supervisor lida com problemas, muitos deles repetitivos, como “picotamento da banda de rodagem, dano nos talões e outros estragos provocados por sobrecarga ou dano acidental”, informa ele.

Com a experiência adquirida em muitos anos de trabalho, Júlio recomenda aos proprietários de trator fazerem a lastragem para adequá-lo à operação a ser executada. Esse procedimento (utilização de ferro ou água) aumenta a aderência dos pneus ao solo, podendo resultar também em economia de combustível e maior vida útil. Além disso, é importante manter alinhamento e balanceamento, procedimentos importantes para a obtenção da vida útil normal do produto.

Outra dica de conservação é voltada para o período de entressafra, quando o veículo fica longo tempo parado. “É recomendável não o deixar ao relento”, lembra o supervisor. Sobre os pneus ele diz que “o ideal é verificar a pressão a cada 15 dias e fazer a calibragem, se necessário”.

A usina Ferrari não utiliza pneu remoldado, somente novo ou reformado. Na média, as unidades duram três “vidas”, ou seja, são reformadas duas vezes.

Júlio Malvestiti reconhece a boa qualidade dos produtos fabricados do Brasil, embora tenha algumas recomendações para melhorar a utilização ou a operação, de acordo com a realidade do Brasil.

No primeiro caso ele sugere a redução do preço do pneu radial para tratores. “O diagonal tem preço bom, mas dura somente de seis mil a sete mil horas. O radial dura de 10 mil a 12 mil horas. Mas, muita gente ainda compra o diagonal devido ao preço elevado do outro modelo, tanto do novo quanto o da reforma”, diz.

Para o pneu de caminhão, as reivindicações de Júlio para os fabricantes são aumentar a capacidade de carga e a durabilidade do talão.


Michelin anuncia produção no Brasil

Pneus agrícolas da marca, atualmente importados, passarão a ser fabricados no Brasil

“O Brasil, país com a maior extensão de terras aráveis no mundo, apesar de ter evoluído significativamente na competitividade do setor agrícola, tem o desafio de progredir de forma expressiva nos próximos anos”.

A declaração acima é parte do discurso de Nour Bouhassoun, presidente da Michelin na América do Sul, ao anunciar que a empresa produzirá pneus agrícolas em sua unidade fabril localizada em Campo Grande (RJ).

Para Nour Bouhassoun, o agronegócio é um dos principais eixos do desenvolvimento econômico sustentável, para alavancar a economia do país, uma vez que garante a produção de mais alimentos, aumenta a fixação do homem no campo e promove a geração de emprego e renda. Nesse contexto, ele entende que a tecnologia é fundamental para proporcionar mais resultados. “Considerando que o pneu é o elo entre a máquina agrícola e o solo, é possível atribuir a ele uma série de resultados positivos relacionados à produção e à rentabilidade da lavoura”, enfatiza.

Especificamente sobre seu produto o executivo destaca que  “a oferta de pneus agrícolas com a tecnologia de ponta Michelin vem para contribuir, de forma significativa, para a produtividade da agricultura nacional, responsável hoje por 23% do PIB brasileiro”.

Segundo Emmanuel Ladent, Diretor Mundial da Divisão Agrícola da Michelin, com a mecanização, a produtividade da agricultura brasileira tem evoluído progressivamente, mas ainda há espaço para continuar crescendo. “Hoje, apenas cerca de 6% dos pneus agrícolas vendidos no Brasil são radiais, enquanto que na Europa esse número chega a 87%. Apostando neste potencial, a Michelin tem como meta consolidar sua liderança no mercado brasileiro de pneus radiais agrícolas, contribuindo assim de forma significativa para esse avanço”, afirma.


Algumas pessoas entrevistados e/ou citadas na matéria podem não ocupar mais os cargos mencionados no texto.