Créditos de Carbono: uma alternativa estratégica para a rentabilidade do agronegócio brasileiro
Por Guilherme da Costa Ferreira Pignaneli, sócio no escritório Ernesto Borges Advogados.
O agronegócio brasileiro, um dos pilares da economia nacional, enfrenta atualmente um cenário de margens cada vez mais apertadas, sobretudo em culturas tradicionais como a soja. O aumento dos custos de produção, a volatilidade dos preços das commodities e os desafios associados ao arrendamento de terras têm pressionado a lucratividade dos produtores. Nesse contexto, surgem os créditos de carbono como uma oportunidade estratégica: além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, esse mecanismo oferece uma nova fonte de receita capaz de complementar e, em alguns casos, equilibrar a sustentabilidade econômica da atividade agrícola.
Em linhas gerais, crédito de carbono é uma unidade que representa a redução ou remoção certificada de uma tonelada de dióxido de carbono equivalente da atmosfera. Ele pode ser gerado por projetos que evitam emissões (como energia renovável, eficiência energética, preservação de florestas) ou que removem carbono já emitido (como reflorestamento e sistemas agroflorestais).
Esses créditos são registrados e auditados por padrões internacionais e podem ser comercializados em mercados regulados ou voluntários, permitindo que empresas, governos e indivíduos compensem suas próprias emissões de gases de efeito estufa.
O valor do crédito de carbono por hectare varia amplamente conforme o mercado, bioma, manejo, projeto, benefícios sociais, metodologia e demanda. Em média, propriedades que preservam áreas florestais ou adotam práticas sustentáveis conseguem gerar entre 140 e 210 créditos por hectare, cada um avaliado em aproximadamente R$ 25,00. Na prática, isso pode representar uma receita anual de R$ 3.500 a R$ 5.250 por hectare, de acordo com o manejo e o tipo de vegetação.
Apenas a título de comparação, segundo estudos feitos pela Cepea, em parceria com a CNA, por meio do Projeto Campo Futuro, a margem bruta estimada para o produtor de soja com terra própria deve recuar 47,6%, passando de R$ 2.325,50/ha em 2024/25 para R$ 1.219,60/ha em 2025/26, o que equivale a uma perda de aproximadamente 10,3 sacas por hectare. O cenário é ainda mais desafiador para quem trabalha com áreas arrendadas, onde a margem bruta projetada se torna negativa, em -R$ 229,50/ha, representando uma retração de R$ 752,40/ha em relação à safra anterior.
De acordo com relatório apresentado pela XP, será o terceiro ano consecutivo de queda de rentabilidade, sobretudo em razão do aumento dos custos de produção que chegou a R$ 5.998,05 por hectare no Mato Grosso do Sul no mesmo período.
Diante deste cenário, o sequestro de carbono se apresenta como uma alternativa complementar para rentabilidade do Agronegócio no Brasil. De acordo com Juliano Assunção, professor do departamento de Economia da PUC-RJ e diretor-executivo do Climate Policy Initiative, o Brasil poderia ganhar R$ 900 bi tão somente com a proteção da sua floresta: “Temos informação detalhada sobre o quanto a floresta pode capturar de carbono e quanto geraria de receita agropecuária. Conseguimos simular o seguinte: como faz mais sentido para nós, brasileiros, usar aquele território em cada cenário de preço de carbono? A cada ano veríamos o quanto de captura líquida observaríamos na floresta. Ou seja: quanto de carbono está sendo capturado no processo de restauro florestal menos o que está sendo emitido tanto pelo desmatamento quanto pela pecuária. E aí, a gente se pergunta o seguinte: se o Brasil fosse pago por esse serviço premium de captura de carbono tantos dólares por tonelada, o que faria sentido para nós, brasileiros, fazemos na região? Se o preço de carbono for relativamente baixo, valeria a pena deixarmos a floresta regenerar em escala, exceto para áreas muito específicas, nas quais a aptidão agrícola é maior. Teríamos um grande programa de restauro na Amazônia e em mais ou menos 30 anos, capturaríamos cerca de 18 bilhões de toneladas de carbono, que é algo bastante relevante.”
E, portanto, diante do recuo expressivo das margens agrícolas e da necessidade de fortalecer a resiliência financeira do setor, os créditos de carbono despontam como um caminho promissor para o agronegócio brasileiro. A integração entre produção agropecuária e conservação ambiental pode transformar áreas preservadas em ativos rentáveis, posicionando o Brasil como protagonista global na economia de baixo carbono. Mais do que uma alternativa de renda, o sequestro de carbono representa uma estratégia de longo prazo capaz de alinhar competitividade, inovação e sustentabilidade no campo.
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