Em reunião nesta terça, dirigentes do setor aeroagrícola alertaram o Ministério sobre os riscos de eventuais contramedidas brasileiras
A poucos dias da entrada em vigor da alíquota de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos importados do Brasil, prevista para esta sexta-feira (1º de agosto), o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) se reuniu nesta terça (29) com a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI) do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em Brasília. O objetivo do Sindag foi reforçar ao Mapa o tamanho e a importância do setor aeroagrícola para o País e conversar sobre as consequências do tarifaço para o segmento aeroagrícola. Além de, principalmente, alertar o governo sobre os riscos de eventuais contramedidas brasileiras.
O encontro teve, presencialmente, o diretor operacional da entidade aeroagrícola, Cláudio Júnior Oliveira, e mais de 27 representantes do setor — entre conselheiros e associados, que participaram online. Pela SCRI, participaram o secretário adjunto Marcel Moreira Pinto; a diretora do Departamento de Negociações e Análises Comerciais, Ana Lúcia Oliveira Gomes, e o chefe de gabinete da Secretaria, Guilherme Antônio da Costa Júnior. Junto com Oliveira estava ainda o diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Syngenta, Luis Guaraná.
Embora o tarifaço atinja diretamente exportações como carne bovina, frutas, café e madeira, o Sindag destacou que o setor aeroagrícola pode ser duplamente afetado. Primeiro, pela retração de clientes dessas culturas, que dependem da aplicação aérea para manter competitividade. Segundo, e mais grave, pelo risco de que peças, motores e aeronaves importados dos EUA acabem na mira de tarifas de retaliação, elevando custos e inviabilizando operações.
Lembrando que cerca de dois terços da frota de mais de 2,7 mil aeronaves agrícolas do País são importadas. E mesmo o terço de aeronaves nacionais (versões do modelo Ipanema, da Embraer) utiliza motores e componentes de fabricação norte-americana.

Na foto (no sentido da mesa): a diretora Ana Lúcia, Guilherme da Costa Júnior e o secretário adjunto Marcel Pinto, junto com Oliveira (ao computador), Guaraná e outros representantes do Sindag no telão
Dependência – “Esse encontro foi essencial para mostrar ao governo que, sem acesso a essas peças e componentes, não temos condições para manter a produtividade no campo. Por isso, estamos detalhando ponto a ponto o que é sensível, para evitar que esses itens entrem em listas de retaliação”, afirmou Cláudio Júnior Oliveira, ao abrir a reunião. Ele lembrou que a aviação agrícola atende mais de 29 culturas e cobre 140 milhões de hectares (somando todas as etapas das lavouras) e é peça-chave até no combate a incêndios florestais: “Sem uma frota ativa e acessível, o agro perde eficiência e o País perde capacidade de resposta.”
Os conselheiros do Sindag reforçaram o alerta. Thiago Magalhães Silva lembrou que 90% das peças do Ipanema vêm dos EUA e que a aviação agrícola, apesar de ser parte da aviação geral, depende quase exclusivamente de importações desse mercado: “Se vier uma retaliação ampla, estaremos no olho do furacão, junto com os produtores de laranja, etanol, madeira e outros produtos, que encaram choques severos.” Já Bruno Ricardo de Vasconcelos chamou atenção para o efeito em cadeia: “Somos o elo intermediário. Se nossos clientes retraem e nossos custos disparam, toda a cadeia — do campo ao exportador — quebra junto.”
Pontos críticos para discussões – Do lado do governo, Marcel Pinto reconheceu que o encontro trouxe um ponto crítico ainda pouco explorado nas discussões internas. “A aviação agrícola, embora seja estratégica, muitas vezes fica esquecida nos cálculos de impacto. Ter esse diagnóstico ajuda a calibrar as medidas e garantir que o setor seja blindado, caso o Brasil precise adotar contramedidas”, disse. Ele detalhou que o Mapa atua em três frentes.
A primeira delas, a negociação com Washington para evitar que a tarifa seja aplicada. Já que, segundo o adjunto da SCRI, “uma alíquota de 50% não é sustentável nem para os próprios EUA, que também dependem de produtos como café e laranja brasileiros para suas cadeias de valor.”
A segunda frente é a abertura de novos mercados, com apoio de 40 adidos agrícolas em 38 países, especialmente na Ásia e no Oriente Médio. Neste caso, com foco em absorver excedentes, caso as exportações para os norte-americanos caiam.
Já o terceiro ponto seria a calibragem de medidas internas. O que poderia ser, por exemplo, mapear itens que não podem ser atingidos por uma eventual medida de reciprocidade. Ou ainda incentivos fiscais ou ajustes em regras de importação, para neutralizar os impactos de uma guerra tarifária. Tudo para garantir que o agro não seja prejudicado por retaliações nacionais e que setores críticos, como a aviação agrícola, sejam preservados.
Mapeamento – A diretora Ana Gomes reforçou a importância do mapeamento técnico: “Precisamos identificar, com precisão, cada peça, motor e componente crítico importado dos EUA para que o governo saiba exatamente o que não pode ser atingido por uma eventual resposta brasileira.” Já o chefe de gabinete Guilherme da Costa Júnior destacou que planos B e C — diversificação de mercados e definição dos setores intocáveis em qualquer retaliação — precisam avançar em paralelo às negociações diplomáticas.
A reunião terminou com compromissos de ambos os lados. Por parte do técnicos do Mapa, o assunto será levado diretamente ao ministro Carlos Fávaro. As informações devem chegar também ao Ministério Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) – cujo ministro e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, coordena o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais sobre o tema.
Por parte do Sindag, a entidade deve agora enviar ao Mapa um estudo sobre os impactos (diretos e indiretos), para aviação agrícola, de uma eventual retaliação brasileira ao tarifaço dos EUA. Incluindo desde a importação de aeronaves e equipamentos embarcados até a entrada, no Brasil, de motores, componentes e tecnologias usadas para fabricar aqui aviões, componentes e maquinário de apoio.
Os representantes do Sindag saíram da reunião com o compromisso do Mapa de levar os pleitos diretamente ao ministro da Agricultura e ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). “Nossa luta é para que, ao reagir ao tarifaço, o Brasil não crie um problema interno ainda maior. A aviação agrícola é a força multiplicadora de produtividade do agro e não pode ser deixada de lado”, concluiu Júnior Oliveira.
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Castor Becker Júnior | Assessoria de Imprensa