Comércio exterior do agronegócio brasileiro

Por Francisco Américo Cassano*

 

Nos últimos dias, muito se tem comentado sobre ameaças ao agronegócio brasileiro, por parte da União Europeia – sob o argumento da preservação ambiental – e, também, por parte da China – sob o argumento da contaminação, pela covid-19, por meio das embalagens de carne de frango.

Tendo vista que as ameaças da União Europeia se relacionam com a não continuidade do acordo com o Mercosul, e não especificamente a produtos brasileiros, deixaremos que tais medidas sejam anunciadas, se é que tal ameaça se concretize, para depois analisá-las com maior profundidade, abordando apenas a citada ameaça chinesa.

Inicialmente, torna-se necessário mostrar a significatividade do agronegócio brasileiro, a fim de se conhecer a importância desse setor de atividade nas nossas exportações para, em seguida, podermos observar eventuais impactos que uma medida de proibição da entrada, pelo governo chinês, poderia afetar os produtos de origem brasileira.

Fonte: Ministério da Economia – Estatísticas de Comércio Exterior – Balança comercial brasileira: acumulado do ano – Valores Mensais e Acumulados: 2020/2019 – Seções e Capítulos da NCM: acumulado. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/balanca-comercial-brasileira-acumulado-do-ano.

A Tabela 1 mostra como as exportações dos principais produtos do agronegócio brasileiro cresceram nos primeiros sete meses deste ano em relação ao mesmo período de 2019 (26,4%). Se considerarmos que as exportações brasileiras de janeiro a julho de 2020 totalizaram US﹩ 120,892 bilhões, as exportações desses principais produtos do agronegócio brasileiro equivalem a 1/3 do total exportado pelo Brasil nesse período (em 2019, no mesmo período, equivalia a 1/4).

Dessa forma, a representatividade desses produtos do agronegócio na pauta exportadora brasileira é muito considerável, sendo que eventuais medidas impeditivas de ingresso para os mesmos, causarão fortes impactos na produção brasileira, e por extensão nas exportações.

Os dados da Tabela 2 nos indicam outra importante representatividade das exportações dos principais produtos do agronegócio brasileiro, desta feita quanto ao crescimento do seu destino para a China em 2020, comparado com o mesmo período de 2019 (38,2%). Além disso, no período jan-jul/2019 tais produtos representavam 48,5% das exportações para a China e, no mesmo período de 2020, passaram para 53,1% deste total. Importante observar-se, também, que mesmo em período de pandemia, as importações chinesas de produtos do agronegócio brasileiro tiveram aumento de demanda em relação ao período anterior, o que demonstra o forte interesse chinês por tais produtos.

Se considerarmos que as exportações brasileiras para a China, de janeiro a julho de 2020, totalizaram US﹩ 41,272 bilhões e que esse valor representa 34,1% do total das exportações brasileiras nesse período, verifica-se que o mercado chinês está crescendo consideravelmente o seu interesse por produtos brasileiros (apenas para realçar essa afirmação, nesse mesmo período de 2019 essa participação do mercado chinês sobre o total exportado pelo Brasil era de 27,6%).

Assim sendo, os principais produtos do agronegócio brasileiro têm importância significativa para o mercado chinês e, simultaneamente, para o conjunto das exportações brasileiras. Observa-se, então, que eventuais medidas de impedimento para esses produtos terão forte repercussão para os produtores nacionais, tendo em vista a dificuldade de se encontrar demanda desta magnitude em prazos imediatos. Paralelamente, o governo chinês pode ter percebido que a sua dependência por alimentos de origem brasileira está crescendo e não seria interessante manter essa relação de subordinação por mais tempo, tendo que tomar medidas que lhe compensassem ser um importador de difícil reposição.

Portanto, não seria exagero pensarmos que uma menção ao fato de impedir a entrada da carne de frango brasileira estaria muito mais ligada a uma ação de redução de preço (em face da forte dependência dos produtos brasileiros em relação ao mercado chinês) do que uma defesa da saúde pública chinesa (mesmo porque essa provável contaminação não estaria confirmada e, principalmente, porque Hong Kong testou esse produto e o resultado foi negativo para covid-19).


Francisco Américo Cassano é Doutor em Ciências Sociais – concentração em Relações Internacionais, Professor Ajunto e Pesquisador do tema Relações e Negócios Internacionais na Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.


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