A Defesa Civil de São Paulo emitiu um alerta no último dia de setembro sobre forte onda de calor que pode levar a temperaturas acima de 40°C nos próximos dias (a previsão é até o dia 5 de outubro) em praticamente todo o Estado. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), essas são as temperaturas mais altas registradas nos últimos anos no mesmo período. Aliada à falta de chuvas que deveriam já ter começado no mês de setembro, a estiagem prolongada vem deixando um rastro de destruição, com registro de queimadas em várias áreas.

Agora, a preocupação dos extensionistas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo que atuam na Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) é com a forte onda de calor que também não tem ajudado os produtores rurais que se dedicam a várias cadeias produtivas.

As altas temperaturas afetam todos os seres vivos: plantas, animais e o homem. Os cuidados devem considerar todos os aspectos que se entrelaçam, afinal, plantas ajudam a amenizar o clima, podem ser parceiras para os animais e para os homens, mas também precisam de cuidados extras, principalmente as lavouras comerciais. “Ainda não dá para prever os prejuízos, mas eles serão grandes em relação às pessoas, às plantas e aos animais, todos estão sendo drasticamente afetados”, alerta o engenheiro agrônomo Roberto Machado, diretor da CDRS Regional Mogi Mirim, que tem ouvido a preocupação dos produtores rurais da região, em especial da cadeia de olerícolas, que precisa de uma temperatura noturna mais baixa, o que não vem ocorrendo.

“Há como se prevenir para amenizar os efeitos das altas temperaturas, mas, no momento, quem não fez um bom planejamento da propriedade, não no sentido da adequação à legislação ambiental, mas no sentido ambiental, com consorciação de culturas, rodízios, instalação de quebra-ventos, enfim, um redesenho na propriedade agrícola e nos seus sistemas de produção, vai sofrer e não há muito o que possa ser feito”, afirma o agrônomo.

Com a experiência adquirida ao longo dos anos como extensionista e ensinamentos de uma família que se dedica à agricultura, Beto Machado diz que essas medidas são as únicas formas de se precaver contra prejuízos que podem se tornar drásticos. O agrônomo reforça que, com as chuvas torrenciais, estiagens prolongadas e as altas temperaturas que vêm ocorrendo, é preciso repensar a propriedade e criar um ambiente mais resiliente.

Segundo o agrônomo, são várias as técnicas que podem ser utilizadas: misturar culturas arbóreas com culturas herbáceas; não optar por culturas extensivas e monoculturas; implantar o sistema Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (ILPF); fazer a instalação de quebra-ventos nos bordos e locais estratégicos, assim como barreiras de capim em áreas menores de hortaliças e de frutos de alto valor, para servirem como quebra-ventos. “Diferentes extratos de árvores, ervas e coberturas de solo, tudo isso irá mitigar os danos dessas variações climáticas, como excesso de altas temperaturas, insuficiência de chuvas ou chuvas mal distribuídas. Essa é uma grande questão para todos os produtores pensarem para que não coloquem seus sistemas de produção em vulnerabilidade”, afirma Beto Machado.

O mesmo que serve para as hortaliças, também serve para as culturas perenes, como os pomares de frutas. O engenheiro agrônomo José Augusto Maiorano, responsável pela área de fruticultura na CDRS, explica que “dependendo do estágio em que estiver a cultura, com um calor muito intenso, a planta vai fechar os estômatos, para não perder água, e irá diminuir ou parar a fotossíntese”.

Estômatos são as aberturas que existem nas folhas e que fazem com que a planta absorva a água do solo e elimine quando faz a fotossíntese. Já a fotossíntese faz com que a planta cresça, nasçam ramos novos, dê flores e frutos. “Dependendo do estágio em que estiverem neste momento de altas temperaturas, as flores poderão abortar e os frutos ficarão pequenos ou pode haver também o abortamento de frutos; de qualquer maneira, irá afetar a produção”, garante o agrônomo, explicando que um telado ou sombrite podem diminuir a irradiação solar. “Tais materiais normalmente são usados para proteger de granizos, mas é uma solução cara, que irá aumentar consideravelmente o custo de produção”, alerta Maiorano, lamentando que de imediato não há muito o que se possa fazer. Porém, alerta o técnico, a irrigação sempre pode auxiliar todas as culturas, principalmente se for adequada e realizada nas horas mais frescas do dia e, de preferência, com orientação adequada.

Produtores de café da região de Franca, uma das mais importantes e reconhecidas regiões cafeeiras do Estado de São Paulo, também estão vivendo um momento difícil e de impasse. As poucas chuvas que caíram pelo Estado não chegaram a cair na região, com isso as lavouras de café não floresceram, o que costuma ocorrer em setembro. “Com as altas temperaturas, que se estendem pelo período noturno também, as flores que nasceram estão caindo e, com certeza, isso irá afetar a produção do próximo ano”, explica Pedro Avelar, diretor da CDRS Regional Franca.

O café é uma cultura bianual; um ano é de boa colheita, o seguinte é de colheita mais fraca. Este foi o ‘ano bom’, mas o próximo com certeza mostrará os reflexos causados pela estiagem prolongada e as altas temperaturas deste período crucial para a cafeicultura. “Os cafeicultores estão preocupados e alguns já tomaram medidas radicais, como a retirada dos novos pés de café que não estão resistindo às altas temperaturas e à falta de chuva”, lamenta Avelar.

 

Animais também reduzem sua capacidade de produção; técnicos ensinam estratégias – “Considerar os efeitos das altas temperaturas na hora de elaborar um projeto de criação animal é muito importante. O estresse térmico tem como consequência a diminuição na produção de carne e de leite, baixas taxas de concepção, retardo no crescimento de animais de reposição e perdas econômicas significativas para o produtor. Na tentativa de se autorregular, o animal aumenta a frequência respiratória, a sudorese e o consumo de água e ocorrem ainda alterações nas concentrações hormonais e nas necessidades de mantença”. Quem explica é a médica veterinária Cheila Rúbia Leite Massiere Duarte, da CDRS, que atua na Casa da Agricultura de Laranjal Paulista.

A veterinária conta que algumas raças são mais suscetíveis ao estresse térmico do que outras e que, em estudos recentes, os cientistas têm identificado e isolado genes diretamente relacionados ao crescimento da pelagem e à alta tolerância ao calor, na tentativa de direcionar a seleção para animais mais adaptados ao nosso clima tropical. Mas adianta que nem tudo está resolvido: “Há de se destacar que alguns animais mais tolerantes ao calor podem ser menos produtivos”, considera a técnica.

Porém há como auxiliar o animal otimizando o ambiente para minimizar os efeitos do estresse térmico. Algumas estratégias de manejo, como proporcionar sombras naturais (arborização) e artificiais (tendas), ventilação e resfriamento evaporativo são algumas alternativas possíveis. Ter um bom planejamento da propriedade no sentido de reduzir o estresse térmico é uma das formas de prevenção, já que não temos controle sobre a temperatura e nem é possível “fazer chover”. Como na vida, planejar e prevenir são ações que devem estar presentes na rotina de um bom empreendedor rural.

Algumas orientações podem servir, se não para esta temporada, para que os produtores se preparem para as próximas, porque o aquecimento global e o aumento da temperatura no Planeta já são do conhecimento geral da população. Cheila dá algumas orientações que podem ser muito úteis: “Integrar a pastagem com arborização não se torna apenas uma opção na redução do estresse térmico em rebanhos, mas também pode servir como forma alternativa de renda, com a produção de madeira ou fornecimento de frutas”.

Além das árvores, outra forma de oferecer bons espaços com sombra para os animais são os métodos artificiais já citados, como as tendas ou os sombrites. Porém a técnica destaca que os métodos de sombreamento natural sem dúvida proporcionam maior conforto e resultados. “O sombreamento artificial auxilia apenas na redução da incidência dos raios solares sobre os animais, mas sozinhos não são suficientes para equilibrar sua temperatura corporal, pois não interferem na umidade do ar e na temperatura atmosférica”, afirma Cheila, que faz um alerta: “O estresse térmico em animais é um inimigo que não deve ser negligenciado, pois pode afetar não só a produção como também o bolso do criador”.

 

Nutricionistas dão dicas para reduzir os efeitos do calor e da falta de umidade no ar – Três nutricionistas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento ensinam, orientam e dão dicas importantes para estes dias de calor intenso. Acostumadas a ensinar nutritivas receitas e formas de agregar valor à produção agrícola, Beatriz Cantusio Pazinato, diretora da Divisão de Extensão Rural e Denise Baldan, ambas extensionistas da CDRS, e Sizele Rodrigues, da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios, dão orientações e dicas importantes.

Com as altas temperaturas, é preciso estarmos ainda mais atentos à hidratação: “Não devemos esperar sentir sede, pois a sensação de sede já é um sinal de desidratação”, alerta Denise. “O ideal é a ingestão de 40 a 50mL/kg de peso corporal/dia de água. Aí é só fazer as contas, e atenção: nessa conta não entram sucos, chás ou outros líquidos, embora eles também tenham sua importância”, afirma a técnica.

Para saber se realmente estamos hidratados, Denise ensina que devemos observar a cor da urina, que deve ser bem clara, um “amarelinho” quase transparente. “Se estiver assim, este é um bom sinal indicador de hidratação. Quanto mais clara, mais hidratado estamos”.

Beatriz confirma que nestes dias mais quentes, o maior cuidado deve ser com a hidratação e explica que, além da água ‒ a qual é a mais importante fonte de hidratação ‒, os sucos e refrescos naturais, a água de coco, ou chás gelados ou suchás (combinação de chá e suco) ajudam a repor a perda de eletrólitos decorrentes da transpiração excessiva.

Para quem não gosta de ingerir água pura, pode aromatizar com fatias de limão e/ou laranja e folhas de ervas aromáticas. “Podemos também colocar folhas de hortelã ou pedaços de morango em forminhas de gelo com água e levar para congelar. Depois de formados os cubos de gelo, é só colocá-los em um copo e completar com água gelada e tomar ao longo do dia. O importante é ficar hidratado para não deixar a sede chegar”, ensina, bem-humorada, Beatriz.

Sizele Rodrigues concorda que os líquidos são importantes, mas uma comida leve também ajuda a enfrentar estes dias com saúde e redução no mal-estar, e dá uma série de dicas importantes para o referido período de calor intenso. Vale conferir:

  • Evite consumir alimentos muito gordurosos, como chocolates, carnes gordas e frituras, pois dificultam a digestão e podem provocar mal-estar.
  • Evite refeições muito pesadas; prefira os cereais integrais como fonte principal de carboidratos.
  • Dê preferência às carnes magras (peixes e aves), que devem ser grelhadas, cozidas ou assadas.
  • Aumente o consumo de saladas de folhas verdes, legumes, assim como frutas e produtos integrais, pois são ótimas fontes de vitaminas, minerais e fibras e, ao mesmo tempo, são leves.
  • Alimentos com leite, gordura e ovos na preparação necessitam de refrigeração, pois o calor aumenta a possibilidade de proliferação de bactérias que podem causar intoxicação alimentar. Nunca consuma esses alimentos à temperatura ambiente!


Assessoria de Comunicação
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo