Aftosa: reduzir a dose da vacina é suficiente para evitar reações?

Por Renato dos Santos*

Renato dos Santos, é médico-veterinário e consultor de bem-estar animal e manejo racional da Beckhauser © Divulgação

A partir de maio, a vacina que imuniza a Febre Aftosa em animais terá a dose reduzida de 5 ml para 2 ml. De acordo com as ações do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com a mudança, a expectativa é de que diminuam as ocorrências de reação nos animais.

Se considerarmos o alto custo da vacina, talvez seja inteligente a decisão de diminuir a dose utilizada para imunizar um animal. É a resposta a um eco dos produtores que se repete há vários anos. No entanto, o que o produtor precisa estar atento é que de forma isolada, a diminuição dos índices de lesões na carcaça por reação vacinal não irão diminuir se ele não aplicar as técnicas de manejo racional e bem-estar animal ao seu rebanho.

O provável é que este índice de lesões vacinais caia ainda mais, mas somente nas propriedades que já adotaram as boas práticas. Àqueles locais que já utilizam corretamente o produto e seguem as orientações do fabricante, aplicando no local indicado (tábua do pescoço) e sem o manejo aversivo.

Infelizmente, naquelas fazendas em que não se dá a devida importância ao manejo – ainda maioria esmagadora – a iniciativa da dose reduzida não surtirá efeito algum. Se os animais continuam sendo vacinados sem contenção adequada e até mesmo em lugar incorreto, a lesão vacinal continuará presente, causando prejuízos financeiros ao produtor.

E o que podemos fazer para uma mudança positiva efetiva? 

A resposta está em várias frentes. Uma delas é oferecer treinamento para a mão de obra e melhorar as condições de trabalho dos funcionários. Vemos por aí equipamentos de contenção ultrapassados, que exigem do aplicador um verdadeiro malabarismo para que ele consiga aplicar o medicamento na tábua do pescoço dos animais.

Outra mudança é investir na melhora dos equipamentos utilizados, como seringas e aplicadores. Muitos ainda são difíceis de higienizar, desmontar e as doses são imprecisas. Já vi casos em que os peões precisam de tratamento para LER (lesão por esforço repetitivo) após o período de vacinação, pelas péssimas condições de trabalho.

Outra iniciativa que traz benefícios é seguir rigorosamente as orientações de conservação e compra da vacina. O governo recomenda que as doses sejam adquiridas somente em lojas registradas. Também é necessário que se verifique se estão na temperatura correta: entre 2°C e 8°C. Para transportá-las, deve ser utilizada uma caixa térmica, com três partes de gelo para uma de vacina, lacrando-a ao final. E, a vacina deve ser mantida no gelo até o momento da aplicação.

Mas muitas vezes, esta não é a realidade do campo. Na região Centro-Norte do País, a energia elétrica é tão inconstante nas fazendas, que não se consegue conservar alimentos. Então, imagine a vacina.

É preciso implantar e exigir da porteira para dentro soluções mais eficazes que apenas reduzir a dose vacinal. Então, o menor volume na imunização só impactará no menor porcentual de lesões, caso ocorram mudanças em todos os envolvidos. Caso contrário será mais uma vez, apenas uma medida paliativa.


Attuale Comunicação
(11) 4022-6824 | attualecomunicacao.com.br