Horizonte de 2050

Por Maurício Antônio Lopes

Maurício Antônio Lopes, predidente da Embrapa

Um dos grandes desafios nas análises globais de segurança alimentar é a necessidade de sofisticação de modelos e análises que permitam estimar, de forma confiável, a demanda futura por alimentos. Isso porque teremos uma população cada vez mais numerosa, mais urbana, mais educada, rica e exigente, o que produzirá substancial pressão na produção e na sofisticação de alimentos até meados desse século.

Em passado recente, o mundo já enfrentou e respondeu bem ao desafio de ampliar a produção de alimentos. Segundo a FAO (órgão das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), a produção agrícola mais que triplicou entre 1960 e 2015, resultado da ampliação de áreas de cultivo e de produtividade, viabilizadas pelo melhoramento genético, mecanização e boas práticas de produção. No entanto, os impactos decorrentes das mudanças climáticas e do desgaste dos recursos naturais – em especial solo e água – fazem crescer as incertezas e o receios acerca da capacidade de resposta aos desafios à frente.

Outro aspecto a ser considerado é a transição nutricional que o mundo experimentará de forma mais intensa nas próximas décadas, com alterações na demanda por alimentos associadas às mudanças demográficas e ao crescimento da renda. É portanto importante qualificar e estimar a extensão de tais mudanças para que que os sistemas agroalimentar e agroindustrial possam se preparar para o futuro.

Um estudo recente, intitulado “Transição nutricional e a estrutura da demanda global de alimentos”, publicado pela Revista Americana de Economia Agrícola, procura projetar com base em futuros plausíveis no horizonte de 2050, o crescimento na demanda por alimentos associados ao progresso da sociedade, em especial à melhoria de renda. Suas conclusões apontam para a crescente diversificação de dietas à medida que a renda per capita aumenta, com a redução do consumo de alimentos amiláceos ou energéticos, e aumento de consumo de proteínas animais, óleos e gorduras, adoçantes, legumes e frutas.

Outra estimativa importante desse estudo é o aumento de 47% na demanda por alimentos entre 2010 e 2050, o que representa menos da metade do crescimento experimentado nas quatro décadas anteriores. E este crescimento ocorrerá principalmente nos países em desenvolvimento, pois países de alta renda já registram elevados níveis de consumo per capita, além de tenderem a crescimento populacional baixo nas próximas décadas. Além do mais, a mobilização global pela redução no desperdício tenderá a conter demanda por volumes crescentes de alimentos no futuro. A FAO estima que até um terço do alimento hoje produzido se perde ou é desperdiçado antes de ser consumido.

Portanto, será preciso lidar com uma realidade desafiadora para o mundo da agricultura e da alimentação no horizonte de 2050. Crescimento econômico e dinâmica populacional serão os principais motores das transformações, com impactos significativos nos padrões de consumo e de produção de alimentos em todo o mundo.

Com base nesses futuros possíveis, pode-se dizer que o Brasil, que consolidou liderança na produção a custos competitivos, de grandes volumes de commodities agrícolas, precisará se concentrar mais em diversificar, especializar e agregar valor à sua produção, além de ampliar substancialmente a organização e o profissionalismo de seus sistema agroalimentar e agroindustrial. Essas são condições essenciais para o país ganhar competitividade e presença nos mercados mais sofisticados e complexos que irão prevalecer no futuro.


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