Avaliação foi debatida no Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio e B3 – Brasil Bolsa Balcão, em São Paulo

A guerra comercial anunciada entre Estados Unidos e China pode representar um benefício imediato para o agronegócio brasileiro, com o aumento das nossas vendas de grãos para o mercado chinês. Mas, no médio e longo prazos, essa disputa pode não ser tão benéfica em função da constatação de que a China vem trabalhando para diminuir sua dependência da compra de soja, por exemplo. Atualmente ela só produz 15% de sua necessidade, mas vem investindo em projetos de dessalinização de água e em energia solar para ampliar sua produção. Além disso, há a expectativa de que, no longo prazo, a esperada desaceleração econômica mundial acabe por afetar o crescimento de renda chinês, o que reduziria sua demanda.

Essa foi uma das avaliações do painel sobre Comércio Exterior: Limites e Oportunidades do Congresso Brasileiro do Agronegócio. “Sabemos que o consumo de proteína é função do aumento de sua renda per capital. Na China, há ainda um grande potencial de expansão que pode ser comprometido por um provável declínio econômico mundial causado pela disputa comercial”, afirmou Nelson Ferreira, sócio da Mckinsey.

Outro risco a ser enfrentado pelo Brasil com a disputa entre China e Estados Unidos é faltar derivados de soja no mercado doméstico para abastecer a indústria de proteína animal. “Como a China importa 70% do mercado mundial de soja e tem potencial para sugar toda a produção sulamericana. Isso pode criar um problema para a indústria de carne, pois se vendermos toda nossa soja para China, talvez teremos de importar derivados de soja para atender a demanda interna”, avaliou Paulo Sousa, diretor da Cargill, que ainda ressaltou a importância da competitividade para o agronegócio brasileiro.

“Eu diria que competitividade está ligada a previsibilidade. Tanto nas fronteiras nacionais, quanto globalmente, estamos com muita imprevisibilidade, o que atrapalha nossa competividade”, concluiu Sousa. Mauro Alberton, diretor de Marketing da Bayer, corrobora com a opinião do diretor da Cargill, ao afirmar que a imprevisibilidade atrapalha as questões globais, afetando muito a agricultura brasileira. “Essa imprevisibilidade das regras do jogo pode trazer uma paralisação que seria muito prejudicial, interferindo em investimentos globais”. Afirmou.

Edwini Kessie, diretor de Agricultura e Commodities da OMC – Organização Mundial do Comércio, que também participou do painel, defende a previsibilidade que, a seu ver, provêm do multilateralismo. “Precisamos voltar ao básico nas relações comerciais entre as nações”, disse. “Partilho do otimismo do diretor da OMC, pois o multilateralismo é inevitável no mundo das regras comerciais”, analisou o embaixador Alexandre Parola, representante permanente do Brasil na OMC. A seu ver, sempre foi muito difícil avançar nas questões agrícolas. “Além disso, há ainda a discussão sobre problemas fitossanitários. Isso deve estar nos debates futuros”, finalizou.


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