Com antecipação do início da colheita em torno 15 dias em relação ao período normal, vitivinicultores projetam volume 20% menor que o colhido no ano anterior, com ganhos na qualidade

Depois de registrar a maior colheita da história do Rio Grande do Sul, com 753 milhões de quilos de uva em 2017, antecedida pela quebra de safra recorde em 2016, com perda de 57%, a vindima 2018 deverá ficar dentro da normalidade e chegar a cerca de 600 mil toneladas da fruta destinadas ao processamento. Produtores e indústria estão otimistas com o desenvolvimento da produção no campo até o momento. As condições climáticas e o manejo adequado realizado ao longo dos meses estão proporcionando às uvas boa qualidade e níveis altos de graduação de açúcar, o que deverá resultar, novamente, em ótimos vinhos, espumantes e sucos de uvas 100%.

De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e também presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho/RS), Oscar Ló, as primeiras uvas para processamento começaram a ser colhidas na segunda quinzena de dezembro, cerca de 15 dias antes do período normal. “As variedades precoces estavam adiantadas por conta do pouco frio feito no inverno. A brotação começou antes, porém, as noites mais frias no mês de dezembro fizeram com que as variedades tardias estejam maturando no período considerado normal. Isso pode prolongar a safra gaúcha, fazendo com que até o término, em março, ela feche o ciclo. A previsão é de um volume 20% menor do que no ano passado, e, devido às regularidades das chuvas e as uvas estarem amadurecendo com clima mais seco, vamos ter uma excelente qualidade. O clima está mais seco, as uvas estão com a sanidade melhor”, avalia.

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS) também projeta uma safra dentro da média dos últimos anos. “Contabilizando todas as uvas, independente do destino, e incluindo o consumo in natura, acreditamos que devam ser colhidas cerca de 750 mil toneladas da fruta em todo o Estado. Se mensurássemos apenas as uvas para processamento, destinadas a elaboração de vinhos, espumantes e sucos de uva, acreditamos que este número passará para, aproximadamente, 600 mil toneladas”, prevê Enio Ângelo Todeschini, engenheiro agrônomo e assistente técnico regional de fruticultura da Emater. “Se o clima continuar assim para viticultura é muito bom, pois diminui o risco de doenças e melhora a maturação da uva. Por enquanto, a qualidade está excelente. O cultivo ao longo de 2017 foi dentro do recomendado, com podas, adubação sem exagero e com plantas com cobertura de solo, o que evita a perda de água e nutrientes, ou seja, a erosão, deixando a videira sem maiores riscos”, completa.

As variedades Bordô, Niágara, Violeta, Concord, Pinot Noir e Chardonnay, por exemplo, foram as primeiras a serem colhidas no Estado. Neste mês, as vinícolas estão recebendo também as Merlot, Riesling Itálico e Glera (Prosecco), e em fevereiro e março serão a vez das Cabernet Souvignon e Franc, Tannat, Moscato Branco, Isabel e Trebbiano.

Para o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Garibaldi, Denis Debiasi, a redução na produção da videira será uma das variáveis responsáveis pela boa qualidade da fruta. “Vamos ter uma diminuição no volume, pois no ano passado a safra foi grande e, claro, a parreira não aguenta dois anos seguidos grandes volumes. Mas isso também é bom, pois não houve acúmulo de uvas nas parreiras, as uvas estão mais distribuídas e se desenvolveram melhor. Na região, tem gente colhendo com um grau de açúcar bem satisfatório. Essas noites amenas, com chuvas periódicas e dias quentes nos proporcionam uma qualidade melhor, em que as uvas amadurecem dentro da normalidade. Quando a matéria-prima vem boa, melhora toda a cadeia”, pontua Debiasi.

Segundo o chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanus, as previsões climáticas previstas para o auge da safra 2018, no primeiro mês do ano, deverão se manter positivas para que se colham as uvas com a maturação adequada. “Os prognósticos meteorológicos apontam para uma influência moderada do La Niña até o final de janeiro, ou seja, uma incidência de chuvas abaixo do normal, o que favorece a maturação e, consequentemente, a boa qualidade das uvas. Estamos acompanhando as previsões, mas ainda é precipitado falar de fevereiro ou março”, observa.
Marcio Ferrari, vice-presidente do Ibravin, coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Farroupilha, explica que as precipitações ocorridas nos últimos meses de 2017 na Serra Gaúcha – região responsável por 85% da produção nacional – foram pontuais e não deverão prejudicar o volume total que será colhido em todo o Estado: “Tivemos algumas perdas em função da chuva de pedra, mas, de uma forma geral, essa diminuição de safra se dá em função da formação de cachos menores”, explica.

Conforme o Cadastro Vitícola, no Rio Grande do Sul são cultivadas 138 variedades de uva, entre viníferas (destinadas à produção de vinhos finos e espumantes) e uvas americanas e híbridas (reservadas à elaboração de vinhos de mesa e sucos). As principais regiões produtoras são: a Serra, a Serra do Sudeste, os Campos de Cima e a Campanha.

Os números das últimas safras gaúchas*

*Uvas para processamento de vinhos, espumantes, sucos de uva e derivados. Dados referentes ao estado do Rio Grande do Sul, provenientes do Cadastro Vinícola, mantido por meio de parceria entre Ibravin e Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi/RS), com recurso do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis).