Administrar uma propriedade rural é um grande desafio. Mas, com bom planejamento, é possível saber com antecedência quais serão os investimentos necessários, o faturamento, as estratégias para situações excepcionais e até o lucro líquido que se obterá nos próximos anos

Antônio Chaker, diretor presidente da Terra Desenvolvimento.

Quanto a sua propriedade rural vai faturar nos próximos anos? Será necessário substituir as máquinas velhas por novas ou os custos de manutenção das atuais ainda não atingiram o limite máximo? Afinal, qual será o montante do lucro líquido no final do período?

Se o seu negócio é agricultura ou pecuária e você não tem as respostas para as perguntas acima, não será o único produtor nessa condição. Mas, se deseja continuar proprietário, comece a se empenhar para ter esses dados o quanto antes, para não correr riscos de ficar “perdido” na administração do seu bem.

“Não é mais possível fazer a gestão de uma fazenda hoje como se fazia nas décadas passadas. Uma propriedade rural tem praticamente as mesmas obrigações e riscos de uma farmácia, de um mercado, ou seja, corre o risco de sofrer prejuízo. E, se isso acontecer por vários anos seguidos, as consequências serão graves”, lembra o consultor Antônio Chaker, diretor presidente da Terra Desenvolvimento.

Ao comparar as empresas da cidade com as fazendas, o consultor cita a legislação: “A qualquer momento, por exemplo, um helicóptero da Polícia Federal pode pousar trazendo fiscais para verificarem a situação legal dos trabalhadores e as condições do trabalho, como o alojamento e as refeições, dentre outras. Havendo irregularidades, poderão ser lavradas autuações de multas, além de denúncias e abertura de processos. Mesmo no campo, não há mais como ficar na informalidade”.

Contudo os problemas legais e outros administrativos podem ser evitados. É possível até minimizar os riscos de perdas da produção, salienta Chaker. O mapa com as coordenadas que conduzem a essa “mina” de resultados positivos chama-se planejamento. Com ele podem-se traçar até as estratégias para alcançar o resultado financeiro desejado.

Um criador de gado sabe que a média de lucro é de R$ 400 por hectare. Essa mesma quantia ganha o produtor de café. O montante sobe para R$ 750 se o produto é milho ou soja. Os valores sofrem variações de acordo com a região onde está situada a lavoura, mas servem como referência. A questão a ser respondida é: por que a maioria consegue e determinado produtor fica distante dessa média ou sequer sabe o valor?

“É preciso planejar com foco nos resultados, contemplando a macro e microeconomia, analisando os cenários, definindo os processos, seus responsáveis, risco, orçamento e tudo mais”, ensina Chaker, que conta com a experiência de participar da administração de 146 fazendas.

Um bom planejamento deve ter como base três pilares de controle: produtos, financeiro e gestão de equipes, resume o consultor. O ideal é o administrador conhecer os produtos e lidar com eles de maneira ampla para obter excelência de resultado. Caso seja semente, por exemplo, tem de saber variedades, a melhor preparação do solo, aplicação de corretivos, fertilizantes, defensivos, colheita; conhecer os mercados interno e externo (bolsas) e saber das tendências.

No quesito financeiro é importante estar informado sobre os investimentos que terá de fazer antes, durante e depois da produção, incluindo os custos com aquisição de insumos, operação e manutenção das máquinas, pagamento de taxas, impostos, empréstimos, salários…

Lidar com pessoas é outra habilidade fundamental de um bom administrador. Encontrar o ponto de equilíbrio para um relacionamento cordial e profissional é o grande desafio. O ideal mesmo é que cada trabalhador esteja consciente da meta a ser alcançada pela fazenda e o seu papel nesse contexto; que tenha disposição para cumprir todas as ordens, fazer as anotações necessárias e continuar motivado.

Atualmente, muitos agropecuaristas até fazem planejamento, porém nem sempre obtêm os resultados esperados, e logo desistem de seguir o que eles mesmos estabeleceram como metas para atingir os objetivos. Antônio Chaker revela o motivo do distanciamento entre o planejado e o alcançado: “Normalmente os problemas não derivam de um plano ruim, e sim da execução mal feita. Falhas de comunicação, falta de comprometimento, poucas informações sobre os resultados e boicotes levam ao famoso ‘não deu certo’ e agora é tarde demais”.

Assim, tendo ainda como referência o tempo em que trabalhou na informalidade, quando, no seu entender, deu tudo certo, e cercado de pessoas que não querem ter o trabalho de fazer anotações e preencher as planilhas, o produtor atribui o mau resultado ao fato de não ser possível aplicar o planejamento tradicional ao seu negócio. Para reforçar essa impressão equivocada, “sempre tem alguém dizendo que sabia que não ia dar certo”, lamenta Chaker.

O consultor enfatiza que planejar é reunir todos os dados, conhecê-los e fazer projeções, imaginando eventuais dificuldades em cada fase de execução e criando alternativas para enfrentar possíveis adversidades. Exemplo: para reduzir riscos de perdas com excesso de chuva, seca, geada e pragas, a solução é fazer seguro. O custo de produção aumenta, mas o produtor não terá perda total no caso desses acontecimentos.

Antônio Chaker salienta que o planejamento deve ser para um período superior a um ano. “É possível que vez ou outra venha um ano atípico, com resultados muito superiores ou inferiores devido às condições climáticas, ao volume de produção de outros países… Não se pode tomar essa excepcionalidade como realidade. O ideal é estabelecer metas para um período de 3 anos, quando então se obtém a média”, complementa.

Ele assegura que, administrando de forma estruturada, é possível ter todos os controles das operações da fazenda e, naturalmente, ter condições de ter prontamente as respostas às perguntas do início dessa matéria.

 

Organize!

Está evidente que é preciso mudar. A tecnologia da informação possibilitou o cruzamento de dados de tal maneira que é impossível continuar na informalidade.

Hoje as autoridades têm condições de saber quase tudo que se passa em sua propriedade, inclusive por meio de visualização via satélite (leia mais informações na seção CAR). Portanto, um dos caminhos para organizar o negócio é o planejamento.

 

Do papel para a realidade

Para alcançar sucesso no seu planejamento, acredite nos propósitos que você mesmo escreveu

Para iniciar um planejamento, não elabore planos grandiosos, mas realistas. Escreva o que você deseja e lute para conseguir. Vá se acostumando a anotar tudo: despesas, receitas, retiradas; quantidades e valores das compras e das vendas; anote os acontecimentos com as máquinas, animais…

Segundo Antônio Chaker, o planejamento de uma propriedade pequena ou média não precisa ser, obrigatoriamente, informatizado. Quem ainda não tem computador pode fazê-lo em folhas de papel. O importante é, acima de tudo, acreditar e respeitar o que você mesmo escreveu, e não desistir.

“A prática mostra que o melhor planejamento é aquele que tem capacidade de acontecer. O velho pensamento que o plano não vale o papel que foi escrito se não puder ser colocado em prática é verdadeiro. Na hora de executar vemos que, de fato, o papel aceita tudo”, diz.

Ele recomenda criar blindagem para a execução. “Primeiramente, toda a empresa (no nosso caso a fazenda) tem de entender o porquê da mudança. Busque o consenso entre as pessoas em relação ao projeto. Conquistar este status é um dos principais papéis do líder. Com um plano sólido e a equipe em consenso, começou bem!”

Chaker acrescenta que o segundo passo está no entendimento de quem faz o quê, como e quando. A escolha das pessoas certas e seu treinamento são determinantes para o sucesso. O espírito de equipe deve ser criado. O líder coloca: “A empresa precisa de você, podemos confiar”? As coisas vão bem quando as pessoas respondem com brilho nos olhos e um sonoro SIM!

Segundo o consultor, o terceiro passo é o estabelecimento dos pontos de verificação. Qual a forma e com que periodicidade os resultados serão avaliados. Neste momento são esclarecidas quais as recompensas, e consequências serão aplicadas. A famosa prática do “olho do dono que engorda o boi”.

“Depois da elaboração de um bom plano, do consenso estabelecido, do time preparado e comprometido, das regras de acompanhamento, nossas chances de sucesso são muito maiores. Lembro que as coisas não irão ocorrer exatamente como o previsto, mas você deve estar preparado para fazer as correções em tempo, sem desanimar e sempre com o foco exatamente no que quer desde o início: o sucesso do plano.”

Lembre-se, você é o líder. Então, faça acontecer. “Só depende de seu empenho tornar realidade aquilo que o papel aceitou muito bem!”, finaliza Antônio Chaker.

Erros comuns

Falta de metas e paternalismo estão entre os erros mais frequentes do administrador de fazenda

Certos hábitos de décadas passadas ainda continuam em voga em muitas fazendas,
influenciando negativamente os resultados. Antônio Chaker enumera algumas dessas práticas.

Falta conhecimento de números.
O agropecuarista não sabe quanto investiu e quanto retirou durante o ano. Assim, não conhece também os resultados, ou seja, não tem certeza se teve lucro, prejuízo; não sabe sequer se terminou o ano com menos bens ou mais capital em relação ao período anterior.

Falta de fluxo de caixa.
O administrador não sabe em quais datas ocorrerão os recebimentos e pagamentos, e paga as contas na medida em que recebe o dinheiro, às vezes com juros e multas. Dependendo do resultado dos preços dos produtos ou do volume da safra, no final do ano tem de vender um ou mais bens para pagar parcelas atrasadas de empréstimo bancário ou de financiamentos.

Contas misturadas.
Utilizar a mesma conta para operações da propriedade e para fins particulares é outro erro ainda muito praticado, e que inviabiliza o conhecimento sobre o desempenho financeiro da produção.

Falta de metas.
Quando não se tem uma meta, qualquer número pode ser suficiente ou insuficiente para os objetivos do dono da terra. Assim, ele vai tocando a vida e o negócio com o que tem para o momento, porque não estipulou quanto poderia ter.

Falta de foco.
Quando o dono não tem metas, o foco dos trabalhadores é na tarefa, não no resultado. Isso implica falta de parâmetros para avaliação de desempenho.

Paternalismo.
Tratar o empregado como parente é antiprofissional e arriscado. Respeito e ética são fundamentais, porém é preciso separar as coisas, principalmente nos horários de trabalho. “Em casos como esse, quando o dono tem de demitir o funcionário, o componente emocional se sobressai, porque o trabalhador se sente traído, e o caso tende a parar na justiça trabalhista”, adverte Chaker.