Limites e limitações

Por Caio Carvalho

 

Caio Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG).

A aplicação do tema deste texto ao agronegócio brasileiro requer um pouco de filosofia e muita imaginação. A realidade brasileira nesse campo mostra tendência de elástica fronteira. A rígida noção dos limites, como um custo elevado de não possibilidade, é uma mensagem negativa que se autoefetiva.

Da década de 1970, quando o Brasil passa a se dedicar de fato ao desenvolvimento tecnológico tropical do seu agronegócio, seus limites, até então impostos pela tecnologia herdada do mundo temperado, foram rompidos de forma espetacular.

Do ponto de vista prático, o agronegócio fez a si mesmo a pergunta chave: Se você não der o melhor de si, como saberá qual é o seu limite? Essa, na verdade, é a pergunta que outros setores da economia brasileira devem fazer a si mesmos.

A resposta ao limite rompido vem, sem demora, das limitações de seguir em frente. As limitações são fatos reais, físicos, ou dogmas, paradigmas criados pelo próprio homem, cristalizando limites falsos ao seu próprio desenvolvimento. O Brasil desenvolveu nos últimos anos tecnologia que permite ter produção durante todo o ano, com duas a três safras de grãos, em rotação de culturas. Com isto, é possível obter produtividades mundiais recordes em ambientes de produção bem mais limitados do que os em que anteriormente se produzia. A resposta ao uso intensivo do solo com tecnologia é a sensível melhoria de sua qualidade, rompendo paradigmas limitadores. Essa é a nova história que nossa geração deixa aos que virão.

O mundo, no entanto, nem sempre aplaude esse sucesso. Ao contrário, vê nele os riscos da competição e assume a atitude dos limites impostos. E a saga seguirá e o sofrimento tem as cores dos interesses contrariados.

Em 2011, o McKinsey Global Institute preparou um relatório sobre a revolução dos recursos e em como atender às necessidades globais por energia, materiais, alimentos e água. Produziu uma visão clara dos limites e das limitações, com a avaliação base sobre o fato de que no último século o uso progressivo de recursos baratos tem sustentado o crescimento econômico global. Embora a demanda por recursos tenha crescido, isso foi compensado pela oferta ampliada e pelo aumento da produtividade.

Do lado das ameaças, uma nova era de preços altos e voláteis dos recursos e das dificuldades de obtê-los de forma equilibrada é um aviso claro de algum retorno do fantasma de Malthus. Atender às demandas futuras irá requerer grande expansão da oferta, quando os ganhos de produtividade serão fundamentais. Isso irá requerer sustentabilidade, redução das mudanças climáticas e acesso universal às energias.

É justamente aqui que salta aos olhos a relevância do Brasil no contexto geopolítico global. Não serão discursos ideológicos ou um olhar pequeno para dentro de si que despertarão esse “gigante adormecido”. Precisaremos de ações de governança com qualidade, produtividade e baixos custos para o país se destacar neste século XXI. A atração ao tão necessário capital e investimentos muito acima do que se tem hoje permitirá a redução do custo Brasil, em um país todo cortado por ferrovias, hidrovias e dutos, alimentando e alimentado por portos produtivos e competitivos, com políticas públicas transparentes e que deem suporte ao desenvolvimento constante, sustentável.

O Brasil deverá ser uma enorme plataforma competitiva do agronegócio e de suas cadeias produtivas. Toda a influência positiva que o setor exerceu na economia nos últimos dez anos tende a se acelerar nos próximos anos. No chamado “programa de governo Dilma – 2014” há uma citação que “o Brasil não será sempre um país em desenvolvimento. Seu destino é ser um país desenvolvido”.

Nenhum caminho levará o Brasil ao objetivo citado sem passar pelo agronegócio, que deveria ser a meta de um governo sério, sendo esse o setor que suporta a balança comercial e que tem potencial para ampliá-la de forma competitiva.

O que se vê hoje no agronegócio brasileiro são casos de cadeias produtivas em situações muito diferentes. Ao controlar os preços da gasolina com a preocupação da inflação e do voto, o governo federal mata o etanol. Ao demorar para buscar uma negociação com a União Europeia face aos temores de outros países do bloco Mercosul, o Brasil tem limites claros de mercado e a acentuada dependência da China para a soja e seus produtos, como exemplo. Ou seja, a reação do organismo global é absolutamente diferente da lógica auto-organizada. Outro claro exemplo é a política tributária, que faz fábricas de óleo vegetal irem para a Argentina. E assim há mil exemplos!

A única forma de sair dessa armadilha é, efetivamente, o governo dialogar com o setor produtivo, fortalecendo o planejamento e lidando antecipadamente com as consequências, de modo a criar organização e não a dispersão.

Estimular a inovação, valorizando a pesquisa e o desenvolvimento com mecanismos integrados público-privados, é o caminho, desde que com o reequilíbrio macroeconômico retornado.

Limites? Nada mais são que as nossas limitações não rompidas que realimentam nossos limites. O agronegócio é solução, desde que curado dos seus limites e limitações.